O episódio ficou conhecido como “Trégua de Natal” e teve lugar em
diversos pontos da Europa que serviam de cenário para as sangrentas batalhas
que abalavam o mundo durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). O mais
significativo aconteceu em dezembro de 1914, 103 anos atrás, a Grande Guerra
ainda no começo, sem que ainda se tivesse dimensão das proporções a que o conflito
chegaria nos três anos subsequentes. Devido à repercussão negativa que alcançou
junto ao alto comando de todas as partes envolvidas no conflito, foi mantido em
segredo de Estado durante décadas, até vir à tona anos mais tarde e
impressionar a opinião pública.
Como se sabe, a Primeira Guerra Mundial ficou conhecida pelo fato de boa
parte de suas batalhas terem sido travadas a partir de trincheiras cavadas
pelas partes beligerantes, umas defronte às outras, separadas por centenas e às
vezes poucas dezenas de metros. Uma guerra inerte, marcada pela extrema tensão
e pelo alto grau de mortandade. Mas em dezembro de 1914, ao longo da Frente
Ocidental (especialmente em territórios francês e belga), na véspera do Natal e
no próprio dia 25, os soldados de ambos os lados inimigos, especialmente
britânicos e alemães, estabeleceram uma espécie de trégua informal e cessaram
fogo naqueles dias. Acharam estranho trocarem tiros, bombas e obuses em pleno
Natal, quando lembravam nostalgicamente de suas famílias em casa, onde
gostariam de estar. E foram além.
Em alguns locais, os soldados saíram de suas trincheiras e se encontraram
face a face na “terra de ninguém”, o perigoso território que separava as
trincheiras, para confraternizar com os inimigos. Largaram as armas, cantaram
juntos canções natalinas, brindaram, trocaram presentes (cigarros, bebidas,
rações), riram, confraternizaram. Houve até um caso em que ingleses e alemães
disputaram uma partida amistosa de futebol, em pleno campo de batalha. Claro
que os comandantes aliados e alemães não aprovaram a história e proibiram
explicitamente qualquer confraternização com o inimigo nos natais subsequentes.
Afinal, na visão deles, guerra é guerra, não há espaço para tréguas, nem mesmo
no Natal. Pena.
Hoje o fato histórico é conhecido e celebrado como uma demonstração de
que o espírito de humanidade existe latente dentro de cada um e, quando evocado
com boa vontade, pode até subjugar, ao menos por alguns instantes, a ordem
belicosa reinante no entorno. Hoje em dia, mais do que nunca, talvez, estejamos
necessitando urgentemente de importantes períodos de trégua. Nem que seja no
Natal. Um Feliz Natal a todos!
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