Hanns Johst (1890 – 1978) é um artista que a população alemã não gosta
muito de lembrar. Seu nome é um daqueles exemplos de personalidades que
acabaram entrando para a História pela porta dos fundos devido às opções e
atitudes assumidas ao longo da vida. Como sabemos, precisamos ter consciência
de que responderemos eternamente pelas opções e atitudes que adotamos, mesmo
que isso acarrete mergulharmos no obscuro lixo da História. Alguns o fazem
deliberadamente, outros o fazem inconscientemente, mas a posteridade não
abranda as consequências das nossas atitudes mesmo que pretendamos
justificá-las com alegadas boas intenções. Elas (as tais das boas intenções)
povoam o inferno, como atesta a sabedoria popular. E o desconhecimento da lei,
da ética, dos valores, não absolve o infrator de responder pelas escolhas
feitas. É prudente termos isso sempre muito claro.
Esse Hanns Johst, por exemplo, era um poeta e dramaturgo alemão que
aderiu entusiasticamente desde a primeira hora à ideologia psicopata, racista,
assassina, incivilizada, desumana e abominável do nazismo capitaneada por
Hitler, Goering, Goebbels, Himmler e outras bestas-feras travestidas de gente. Foi
um dos grandes intelectuais alemães a erguer a voz para defender, aplaudir e
incentivar a queima de livros considerados “anti-germânicos” nas universidades
alemãs nos meses de maio e junho de 1933, quando foram para as chamas obras de
autoria de Albert Einstein, Thomas Mann, Sigmund Freud, Karl Marx, Heinrich
Heine e muitos outros. Incinerar livros, desprezar a cultura em geral, configurou,
na Alemanha da época, apenas um ensaio em direção à eliminação e queima de
seres humanos dali a alguns anos. Cercear as artes, desprezar a importância da
cultura, amarrar e emudecer artistas são atitudes sempre temerárias, em
qualquer parte do mundo, em qualquer época.
Também é de autoria de Johst a peça “Schlageter”, encenada pela primeira
vez por ocasião do 44º aniversário de Hitler, em 20 de abril de 1933,
celebrando sua conquista do poder na Alemanha. Vem de uma das falas de um dos
personagens a tristemente famosa frase “quando ouço falar em cultura, solto
logo a trava de minha pistola”. Infelizmente, a ameaçadora e simbólica sentença
segue sendo atual na boca, nas intenções e nas atitudes de muita gente, em
várias partes do mundo. Johst foi capturado pelos Aliados no final da Segunda
Guerra, condenado por suas atitudes nazistas e caiu em desgraça. Foi varrido
para a lixeira da História. A porta dos fundos sempre está aberta para quem
quiser cruzá-la É preciso ter cuidado.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 4 de dezembro de 2017)
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