segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Na ausência do Falcon

Era lá pelo final dos anos 1970 e meu sonho de consumo, assim como o de toda a gurizada de minha época, era ter um boneco Falcon, da Estrela. Quem tem menos de 40 anos e estiver lendo esta crônica, não vai ter a mais remota ideia do que estou falando. Então, tento explicar. Falcon era um boneco de plástico de uns 30 centímetros de altura, mais ou menos articulado, barbudo, trajando roupa militar camuflada, botas e repleto de acessórios de combate como metralhadora, pistola, paraquedas, turbocóptero, walkie-talkie, lanterna, binóculos, facões, bússolas e tudo o mais que fosse possível imaginar. Falcon era tudo! Falcon era aventura e diversão garantidas! Ah, como eu queria um Falcon!
Tratava-se, repito, do final dos anos 1970. Para ser mais específico, descubro, após uma rápida busca google (afinal, escrevo no início do século 21, né), que o boneco fora lançado pela fábrica de brinquedos Estrela exatamente em 1977, quando, então, eu tinha 11 anos de existência. E eu queria um Falcon. Havia propaganda na televisão à tarde, enquanto eu assistia, depois das aulas, no aparelho Telefunken em preto e branco, aos desenhos animados da Hannah-Barbera (A Arca do Zé Colmeia, A Corrida Maluca, Tom & Jerry, A Feiticeira Faceira, Zé Buscapé, O Esquilo Sem Grilo, Tutubarão etc), que mostravam a versatilidade do boneco Falcon que, inclusive, vinha em duas versões: com e sem barba! Em outra opção, o boneco mexia os olhos! Ah, eu sonhava diariamente com um boneco Falcon. Mas nunca tive um.
Havia um coleguinha, que imaginávamos rico, que possuía um Falcon. Era o Ricardo. Ele tinha não só um Falcon, como também um autorama, outro sonho de consumo. Não tive nem um nem outro. Tive, óbvio, muitas outras coisas, mas não um Falcon. Eis aí outro tópico que coloco na lista de temas a serem abordados e dissecados, futuramente, assim que me animar a começar a fazer análise. A ausência do Falcon em minha vida e como a possibilidade de tê-lo poderia tê-la mudado. Afinal, olha só a situação hoje daqueles meus colegas que tinham Falcons! Nossa! Que coisa! Como ponderou dia desses meu amigo Cristiano, que também nunca teve um Falcon, vejam o Donald Trump! Deve ter tido dezenas de Falcons! Digo mais: Trump deve ter tido a coleção completa dos Falcons na infância! E chegou onde chegou, sendo a coisa que é, pelo simples fato de ter tido Falcon! Não tenho dúvidas disso.

Nem Cristiano e tampouco eu somos presidentes dos Estados Unidos por uma só razão: faltou um Falcon em nossas biografias. Bom, se for pensar por esse viés... Sorte do mundo...
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 11 de setembro de 2017) 

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