Estudar o passado é a melhor ferramenta que existe (quiçá
a única) para compreender o presente e construir o futuro. Foi sobre os erros e
os acertos do passado que o presente moldou-se, e o futuro que queremos só
poderá ser erigido se conseguirmos evitar os antigos erros cometidos e
repetirmos (ou aprimorarmos) os acertos. Muitas vezes, o passado, que parece
ilusoriamente mais remoto a cada ano que dele nos afastamos, vê seus reflexos e
consequências se entranharem profundamente nos aspectos do cotidiano, tecendo e
comandando o presente de maneira vital, aproveitando-se de nossa miopia. É um
perigo.
A Segunda Guerra Mundial, por exemplo, conflito que
terminou há 72 anos, exerce influência determinante no perfil do mundo que
vivemos hoje, não só nos aspectos geopolíticos, econômicos, humanísticos e
ideológicos, mas essencialmente nas questões éticas e morais. A portentosidade
do episódio histórico conhecido como Segunda Guerra Mundial, a extensão de suas
consequências e transformações, é tão imensa que segue gerando estudos,
despertando atenções, estimulando teorias. E deve ser assim mesmo, porque é
dessa tentativa de compreensão que resultará a possibilidade de se construir um
mundo melhor, especialmente se a humanidade conseguir, na prática, varrer para
o lixo todos os aspectos que pautavam a proposta de mundo conduzida pelo
nazismo e pelo fascismo.
Os escritores franceses Louis Pauwels e Jacques Bergier defendem
que o nazismo representava uma civilização completamente diferente daquilo que
conhecemos como civilização, sem pontos de convergência e de comunicação
intelectual, moral e espiritual com a nossa. Por isso que precisou ser
combatido até a derrocada absoluta. A visão nazista de mundo é excludente,
opressora, racista, intolerante, criminosa, violenta, sexista, assassina, corrupta,
psicopata e movida pelo ódio. Seus mentores e acólitos foram derrotados
militarmente e suas ideias execradas. Mas é preciso permanecer alerta.
Temos de estar constantemente atentos ao florescer de
visões de mundo que não conversam com aquilo que aceitamos, conhecemos e
adotamos como civilização, sob pena de implosão dos pilares sobre os quais se
sustentam a vida em sociedade. A corrupção que carcome a sociedade brasileira
não conversa com aquilo que se entende por civilização, e precisa ser combatida
onde quer que ela se expresse, desde o roubo milionário dos cofres públicos nas
altas esferas até o motorista que se diz cidadão mas foge do local após colidir
o carro. A História é construída a partir do cotidiano dos anônimos.
(Crônica de Marcos Fernando Kirst, publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 3 de julho de 2017)
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