Entre as 127 razões para amar Caxias do Sul, elencadas
semana passada pelo jornal Pioneiro,
em sintonia com o 127º aniversário da cidade, transcorrido dia 20 de junho, figurava
o bauru como iguaria local com grande ibope entre o público. Sim, Caxias do Sul
é reconhecida gastronomicamente, entre várias outras delícias (a sopa de
agnolini, o sagu servido quente, o galeto al primo canto, o xis burguer
grandalhão, o rodízio de pizzas etc), pela qualidade e pelas especificidades do
bauru servido ao prato nos vários restaurantes da cidade que incluem a atração
gustativa no cardápio. Eu, que aqui encravo raízes há 25 anos, também me tornei
um ativo apreciador dos baurus locais, sentindo, sazonalmente, necessidades
imperiosas de me conduzir a algum estabelecimento e saciar (por instantes) o
desejo pelo reencontro com seus sabores, aromas e texturas.
Ah, nada como vivenciar e repetir a experiência de estar
sentado à mesa do restaurante ou da lancheria e presenciar a chegada da
travessa ocupada pela titânica peça de filé envolta em queijos e presunto,
adornada com o fumegante molho vermelho sobre o qual ainda estira-se uma camada
de molho verde, cuja receita é secreta e depende da criatividade de cada
estabelecimento. Ao lado, os indispensáveis pãezinhos aquecidos e a travessa de
arroz branco, trazidos para evitar o desperdício das últimas gotas dos molhos,
que não podem restar no prato. É crime de lesa gastronomia e lesa gula devolver
à cozinha a travessa e o prato contendo resquícios dos molhos. Só de descrever
as cenas minhas papilas gustativas se excitam, a imaginação ferve e degusto
garfadas imaginárias ao tecer da crônica.
Nem sempre, no entanto, estamos (nós, caxienses fissurados
por baurus) municiados de tempo e, especialmente, dos fiorins necessários para saciarmos esse desejo de consumo que nos é
intermitente e avassalador. Em várias ocasiões, precisamos nos contentar com
uma sopinha de feijão em casa mesmo, que tem seu inegável valor, claro, mas
nada se compara a um bauru quando estamos com fome de bauru. Felizmente, dia
desses, transitando pela tevê a cabo, flagrei um renomado e generoso chef
caxiense apresentando um programa de culinária em que ensinava os segredos e as
técnicas para produzir em casa o seu próprio bauru. Com molho verde e tudo!
Acompanhei atentamente todos os passos, tomei nota e, no dia seguinte, de volta
das compras, lancei-me às panelas. Deu certo! Agora, sei fazer bauru. A
conquista da liberdade é uma experiência multifacetada, ao sabor das motivações
de cada um. Bom apetite!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 26 de junho de 2017)