Se é verdade que a História se repete como farsa (a rigor,
a frase de Karl Marx, pensador alemão que viveu ente 1818 e 1883, diz assim: “A
História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”), então,
frente aos tufões políticos recentes que sacodem o país, achei por bem dar uma
revisitadinha básica em alguns pontos do passado que talvez possam lançar alguma
luz na escuridão que por aqui vivenciamos nesse assombroso presente. Lembrei, então,
da queda do Império Romano, e lá fui eu, aos alfarrábios, para ver se aprendia
alguma coisa.
O portentoso e poderoso Império Romano já vinha decaindo
em todos os aspectos (político, militar, social, ético e moral) há muito tempo,
quando as famosas invasões bárbaras foram corroendo e enfraquecendo cada vez
mais suas estruturas, lá nos meados do século cinco depois de Cristo. “Bárbaros”
era como os romanos classificavam os povos que viviam em tribos a leste do
Império, em regiões hoje conhecidas como Alemanha, Áustria e redondezas. Em
resumo, “bárbaros” eram aqueles que não falavam latim (a língua oficial do
Império), não seguiam as leis romanas e não participavam da civilização da
forma como a romanada entendia o conceito.
E os tais bárbaros vieram e botaram tudo abaixo de vez,
decretando oficialmente a queda do Império Romano em 476 d.C., com o saque
liderado por Odoacro, chefe dos hérulos (povo germânico originário do sul da
Escandinávia). A data específica se dá devido à conquista de Roma, a capital do
Império, que, àquela altura, já andava meio abandonada, com boa parte dos
moradores tendo fugido para o interior, prevendo a vindoura desgraça final. E
se tem coisa que a humanidade sabe há milênios é isso: se uma desgraça se
anuncia e dá sinais de que vem, ela acaba vindo mesmo.
Li essas coisas e fiquei refletindo, especialmente sobre
essa forte imagem dos bárbaros que não falam a mesma língua do povo, que vivem
leis próprias que se impõem às leis que regem o povo e estão a serviço de seus
próprios interesses e que, por fim, acabam por protagonizar a derrocada
absoluta desse povo, saqueando-o, vampirizando-o, fragilizando-o, subjugando-o,
barbarizando-o de todas as formas. E saem ilesos depois da queda do império.
Fácil encontrar semelhanças frente ao que vivemos hoje no país. Com uma
diferença crucial e ainda mais estarrecedora: no nosso caso, os bandos de
bárbaros não precisam cruzar fronteiras e vir de longe apodrecer as bases da
civilização. Eles agem por dentro mesmo, a partir das entranhas dessa mesma
civilização, tendo sido gerados entre nós.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 22 de maio de 2017)
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