segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O desandar da maionese

“Cada um com a sua fissura”, como já dizia o Keith Richards. Eu, hoje, vou falar sobre a minha, com a licença da madama leitora e do cavalheiro leitor, que devem ter também as suas, mas quem sou eu para pedir que revelem, até porque isso aqui não é divã de psicanalista, mas tão-somente uma croniqueta de segunda (de segunda-feira, que fique claro e se evitem os mal-entendidos, que de mau entendedor já bastamos eu certos senadores que assinam coisas sem ler pela aí, né, madama minha?). Pois, como eu ia dizendo (e não ia, porque o texto não engrenou de primeira devido aos parêntesis e às intercalações que tanto caracterizam este prolixo escriba que certos alguéns gostariam de des-caracterizar pro-lixo, mas, avante!). Como eu ia dizendo, direi a partir do segundo parágrafo, se ainda houver audiência.
Então, as fissuras. A minha, é por maionese. Sou fissurado por maionese. Maionese que, no meu entender de descendente de alemães oriundo de Ijuí, deve ser traduzida por salada de batata. Minha fissura de verdade, então, é por aquilo que chamo (e como) como salada de batata e que por essas plagas serranas define-se (e come-se) como maionese. Para mim, maionese é apenas um dos ingredientes utilizados para compor as irresistíveis saldas de batata, nas quais se utiliza batatas, maionese e penduricalhos que lhe vão acrescentando sabor e fazendo a diferença, tipo pepinos, azeitonas, rodelas de ovo cozido, salsa picada, crem (como, madama? Crem não? Ah, então crem não se usa em tudo? Cronicando e aprendendo. Crem não, então). Mas, classifiquem como maionese ou salda de batata, não importa. Minha fissura emerge das entranhas de minha gula e eu ataco sem dó nem piedade.

Sou um potencial candidato a vitimar-me por salmonela, porque basta disponibilizarem, em qualquer boteco, um pratinho de maionese ali no canto da mesa que meu radar detecta e eu crau! Quero nem saber, foi! Sei lá, devem ter metido maionese na minha mamadeira quando eu era pequeno, para ter se entranhado em mim essa fissura tão essencial pelo prato. Questionei minha mãe, dia desses, a respeito, e ela ficou me olhando de lado, em silêncio. Esse olhar dela sem responder pode significar coisas. Um: que ela fez mesmo isso, mas não ousa revelar. Dois: que só eu mesmo para imaginar uma sandice dessas. Três: que apesar de ser uma sandice, ela de fato o fez, mas não vai revelar. Claro que já estou viajando na maionese. Mesmo sem ser senador, basta colocarem um prato de maionese na minha frente que eu assino qualquer coisa. Não votem em mim, que a maionese desanda!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul,em 20 de fevereiro de 2017)

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