segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Agora sim: picolé no palito!

Eu havia prometido a mim mesmo que jamais voltaria a esse tema aqui nessas mal-digitadas semanais, porém, não consegui me conter e lá vamos nós de novo, madama, mergulhar na retomada da polêmica do sagu. Mas, também, pudera: como calar quando me chega ao conhecimento, lendo notinha publicada dia desses na coluna “Caixa-Forte”, aqui neste mesmo periódico, divulgando que determinada empresa situada no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, resolveu inovar e passar a vender picolé de sagu? A senhora acredita nisso? Só vendo? Sim, madama, eu também. E vou além: só vendo e lambendo.
Tempos atrás, ousei revelar aqui minha incapacidade em modelar meu (discutível) gosto gastronômico e equalizá-lo na frequência necessária para conseguir apreciar a sobremesa conhecida como sagu quando servida em temperaturas que variam do morno ao quente, conforme parece ser apreciado pela esmagadora maioria dos nativos e habitantes da Serra Gaúcha. Vi-me praticamente sozinho emparedado na minha estranha preferência por sagu frio e/ou gelado, o que, conforme os relatos que recebi, reveste-se em atitude reveladora de gosto estragado. “Sagu se come quente, senhor cronista”, foi o que aprendi ao meter a mêscola onde não era chamado. Fiquei pensando com os botões de minha manga de camisa que existe uma incoerência nisso, uma vez que, em todos os restaurantes e bufês da região em que a sobremesa de sagu é disponibilizada, ela se apresenta fria, jamais sendo mantida aquecida sobre um réchaud fumegante, e parece ser assim consumida por todos, mas, enfim, havia decidido deixar isso para lá.

Pois bem, mas agora, surge, de dentro das entranhas da Serra Gaúcha, a novidade do picolé de sagu, que, a julgar pelo que se pode depreender pelo uso da lógica e da razão, haverá de ser servido gelado aos consumidores. Bom, se depender dos nativos, vai ser um fracasso. Quem vai chupar picolé de sagu gelado? A gente quer sagu quente, conforme tento aprender, ora, pois, direis bolotas de mandioca! Correm os inovadores gastronômicos do Vale dos Vinhedos o risco de verem a picolezada encalhar nos freezers e derreterem ao abandono. Ou isso, ou a novidade é mesmo revolucionária: compre o picolé e exponha-o ao sol por trinta minutos, na tentativa de aquecê-lo e torná-lo próprio para o consumo. Ahá! Agora sim, entendi. Porque sagu, né, madama mia, saboreia-se quente ou morno! Quente ou morno! Quente ou morno, sim, sim, entendi! De minha parte, cabeçudo como sou, vou mesmo ver para crer. Degustarei meu saguzinho ao palito devidamente gelado!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de outubro de 2016)

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