sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Sobre golear a Dinamarca

Sim, eu assisti à partida entre Brasil e Dinamarca na noite de quarta-feira, em que a Seleção Olímpica Brasileira de Futebol Masculino entrou de novo em campo, desacreditada depois das amargas estreias sem gols contra as fracas seleções da África do Sul e do Iraque, que lhes custou críticas em todas as plataformas existentes e imagináveis: dos jornais às redes sociais, das cadeiras dos barbeiros às rodas de chope, dos salões de manicure às academias de ginástica. Ninguém perdoou, especialmente quando comparada a performance dos meninos com a das integrantes da Seleção Olímpica Brasileira de Futebol Feminino, que estreou em grande estilo, metendo goleadas e mostrando o que acontece quando se leva a sério um propósito.
Até poucos anos atrás, o futebol ainda resistia como campo eminentemente masculino, uma vez que a competência das mulheres já vem há tempos encolhendo o raio de ação exclusivo dos homens em várias frentes e não é mais novidade mulher caminhoneira, taxista, lixeira, executiva, empresária, juíza, frentista, delegada de polícia, brigadiana, editora, metalúrgica, carteira, roqueira, soldada, pilota de avião, mestre, doutora, pós-doutora, reitora, política, bandeirinha, juíza de futebol etc. O fato é que não há mais campo em que os homens reinem sozinhos, o que os força a abandonar a zona de conforto e a se reinventarem também, se não quiserem ser atropelados pela competência, pelo foco, pela abnegação com que elas se dedicam a tudo. As mulheres estão obrigando os homens a deixar de serem “mulherzinhas”. Até mesmo no futebol.
Os quatro a zero de quarta-feira sobre a Dinamarca foram bem-vindos, sim, era o que queríamos: um chacoalhão na Seleção Masculina e a devida reação. Passaram para a próxima fase, mas agora é que são elas. Ou melhor, eles. Porque as meninas ainda estão na frente: em três partidas, ganharam duas e empataram uma: sete pontos. Os meninos, empataram duas e venceram uma: cinco pontos. Elas convencem. Eles ainda estão sob análise. E tem mais: não há nada de humilhante em os homens serem comparados com o desempenho feminino, seja no âmbito que for. É preciso aprender com quem tem a ensinar. Só isso.

Não se trata de uma comparação entre gêneros, mas, sim, da demonstração na prática dos resultados que se obtém quando existe dedicação à causa, amor, entrega, foco, trabalho, suor. Os resultados vêm disso. Só disso. Sempre. No caso do futebol, quem está ensinando isso aos meninos são as meninas. Não interessa quem ganhará medalha no final. O que interessa é a forma como se luta por elas.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de agosto de 2016) 

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