quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Sintonizado nas nuvens

Dia desses, levei meu computador a um profissional qualificado (membro da família, naturalmente) para que nele procedesse às devidas formatações, limpezas, becápes (“back ups”, para os puristas), dáunloudes, atualizações, faxinas e o que mais fosse necessário para que a máquina voltasse a funcionar condignamente, sem travar, sem desligar de súbito, sem emitir gargarejos esquisitos, sem brincar de esconde-esconde com textos recém-escritos, essas diatribes que computadores fazem quando ficam tempo demais longe das revisões e que exasperam os usuários, normalmente semianalfabetos virtuais, como este mundano escriba que vos cronica (“eu cronico, tu cronicas”, do verbo “cronicar”, combinados, madama?). Na volta, ao ligar o aparelho no escritório doméstico (“home office”, conforme já pactuamos que é mais chique), deu-se a surpresa.
Devido à atualização de vários programas operacionais, acabei brindado com um serviço extremamente ágil e competente de previsão climática, muito mais confiável do que todas as promessas que vinha escutando até então das moças do tempo em todos os canais televisivos e bem mais prático do que colocar o braço para fora da janela com a intenção de confirmar se chove ou se o tempo está firme, como me via obrigado a fazer antes de sair de casa. Agora viciei no programinha do tempo e consulto-o a toda hora, com o propósito de verificar se o que ele afirma na virtualidade anda condizendo com a realidade temporal verificada lá fora. E não é que anda acertando? Estou fascinado.
Meu previsor do clima chega ao ponto de informar como se dará a variação do tempo de hora em hora ao longo do dia. Agora, por exemplo, jura que choverá daqui a duas horas. Marquei no caderninho. Daqui a duas horas, quero ver se haverá chuva. Além do mais, ele me elucida dados que sequer sabia existirem. Claro, me dá a temperatura e a sensação térmica, me diz a velocidade do vento e a umidade relativa do ar, mas vai além, explicitando a pressão atmosférica, o alcance da visibilidade (veja só!) e até o ponto de orvalho! E ainda conversa comigo, dizendo: “O céu estará nublado. Estará fresco lá fora, com máxima de 11º C. Haverá chuva durante a manhã”. Quer algo melhor do que isso?

Outro dia, programei um acampamento no mato para o final de semana. Familiares e amigos se surpreenderam com minha iniciativa, mas fui firme: “acamparemos no sábado”! Na noite de sexta, sob chuvas e trovoadas, cancelamos a programação. Eu sabia há dias que choveria, mas, ao menos, fiz minha moral com a galera. Nada como estar em sintonia com o seu tempo!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de agosto de 2016)

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