terça-feira, 16 de agosto de 2016

Os recados das tabelas

Gosto de despender certa parte de meu tempo a analisar tabelas. Algum engraçadinho diria que “vivo pelas tabelas”, mas não chego a tanto. Mesmo assim, minha experiência demonstra que muito se pode obter em termos de informações sempre que uma tabela é examinada com o devido afinco e com predisposição para ir além dos números ali apresentados. Tabelas também possuem entrelinhas, camufladas aos olhos do observador superficial, mas prontas a revelar nuances e mistérios aos perseverantes, que navegam o olhar pelas ondas de mares não explícitos.
Tabelas que sempre consulto são aquelas que demonstram o desempenho dos times de futebol ao final das rodadas semanais de confrontos. Tanto a do Gauchão quanto a do Brasileirão recebem minhas visitas semanais e gasto nelas bons pares de minutos analisando o desempenho do time para o qual teimosamente torço. E o que se aprende após passar tantos anos observando o desenrolar de números de gols feitos contra o número de gols sofridos; a quantidade de partidas vencidas, perdidas e empatadas; a coleção de cartões amarelos e vermelhos e o aproveitamento dos times? Ora, conclui-se o óbvio: campeonatos são ganhos por quem joga melhor, vence mais do que perde, faz mais gols do que leva. Em resumo: por quem se prepara melhor e por quem se empenha mais do que os outros.

Mesma coisa nas Olimpíadas e seu Quadro de Medalhas. As obviedades estão ali, escancaradas entre os países amealhadores de medalhas de ouro, prata e bronze, contra aqueles que só fazem figuração. Interessante detectar que os protagonistas e os figurantes no Quadro de Medalhas Olímpicas equivalem aos países protagonistas e figurantes no cenário da geopolítica mundial. Óbvio que não se trata de coincidência. Detalhe singular: ontem pela manhã, os ocupantes das oito primeiras posições no Quadro de Medalhas eram exatamente os oito países protagonistas da Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos, Grã-Bretanha, China, Rússia, França, Alemanha, Itália e Japão. Entre vencedores e derrotados no conflito, constam ali os países que se reergueram e se reinventaram após passarem pela pior guerra da História da Humanidade. E se reergueram e se reinventaram devido ao esforço conjunto de seus povos, calcados na construção de sociedades baseadas em valores comunitários e cidadãos cujos resultados vão bem além da boa performance esportiva apresentada pela conquista de medalhas. A conquista de medalhas tem de se dar no dia a dia dos povos, sabendo enfrentar com maturidade as suas mazelas, sem molecagens. Molecagem não conquista medalha.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de agosto de 2016)

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