A principal estrela da 15ª edição do Festival de Cinema de
Gramado, realizada no longínquo ano de 1987 (quase três décadas atrás), fui eu
mesmo. Ouso afirmar isso porque, imerso na condição humana como sou por direito
nato, meço o mundo e relativizo a importância das coisas a partir de meu
próprio umbigo. Viu só, madama? Hoje decidi chutar o balde que continha a
pequenez de minha modéstia.
Resgato a memória embalado pela polêmica capitaneada na
edição deste ano do Festival pela atriz Sonia Braga, que, em entrevista
coletiva na abertura do evento (sexta-feira passada), voltou a criticar o
governo de Michel Temer, chamando-o de golpista. Sonia Braga é e sempre foi uma
mulher de posições definidas e exerce seu direito de expressá-las. E o Festival
de Cinema de Gramado é e sempre foi palco para manifestações de seus
participantes.
Vi isso ao vivo naquele ano de 1987, quando, na condição
de ainda semi-imberbe estudante de Jornalismo, obtive credencial de imprensa
por meio da Rádio da Universidade Federal de Santa Maria e, após raspar os
trocos da caderneta de poupança para financiar pousada, alimentação e
transporte, pude vivenciar “in loco” o clima do evento. Presenciei o diretor de
cinema Rogério Sganzerla (1946 – 2004) interromper a projeção de seu filme “Nem
Tudo é Verdade”, após falhas repetidas no sistema de som, e proferir discurso
irado contra as más condições das salas de cinema do país na época. Cheguei
pertinho e fiz fotos das musas Lúcia Verissimo e Bruna Lombardi.
E obtive meu diploma de foca inexperiente e inconveniente
ao abordar, no saguão do Palácio dos Festivais, gravador de fita-cassete em
punho, o cineasta Walter Hugo Khouri (1929-2003), que tomava cafezinho e
passava uma cantada em uma bela recepcionista. Imbecilizado pela inexperiência juvenil,
interrompi a conversa e pedi entrevista para a Rádio Universidade de Santa Maria.
“Para quem?”, exclamou o diretor, contrariado com a fuga da beldade que já
estava quase no papo. Repeti e ele, vendo meu nervosismo, assentiu. E tasquei a
primeira pergunta: “Quais as suas expectativas para o Festival?”. Novo enfado e
a resposta desolada: “Oh, não, logo isso...”. Mas ele respirou fundo e deu a
entrevista. Que não foi ao ar em lugar nenhum. Serviu apenas para tirar parte
de meus temores. Conseguira entrevistar um famoso! Agora, o mundo seria meu!
Dali em diante, não vi mais nada. Só eu sabia, mas eu era a estrela do
Festival! Do meu festival pessoal rumo à formação profissional. Afinal, madama,
somos as estrelas de nossos próprios filmes de vida, certo?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 29 de agosto de 2016)
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