Coisas estranhas acontecem em Uvanova, aquela pequena
cidadezinha de colonização italiana encravada no seio da Serra Gaúcha, às
margens do Rio das Antas, que faz divisa ao sul com a cidade de Tapariu; ao
norte com a localidade de Vila Faconda; a leste com Nova Brócola do Sul e, a
oeste, todos dão uma paradinha no final da tarde para apreciar o pôr-do-sol,
porque, também, ninguém é de ferro e não dá para preencher a vida só com
trabalho, trabalho, trabalho. Mantenho-me informado a respeito dos
acontecimentos que movimentam a cidade por meio das notícias impressas no “O Uvanoveiro”,
jornal semanal local que fielmente assino e recebo pelo correio com um atraso
médio de quatro semanas porque, para economizar selo, são enviadas juntas as
quatro edições do mês.
A grande novidade que mexe com o cotidiano dos uvanovenses
(“uvanovense” ou “uvanoveiro”, uma das celeumas que chacoalham a comunidade há
décadas) provém da área esportiva, mais especificamente do setor futebolístico,
uma vez que o futebol é o esporte mais popular entre os nativos, seguido de
perto pela esgrima de mêscola e pela bola na sporta. Aliás, a transmissão dos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro provocou uma renovação geral do interesse dos
uvanovenses pelas mais variadas práticas esportivas e campeonatos os mais
diversos surgem em todas as partes pelo município, aquecendo o setor da venda
de apitos e o do comércio de pão com salame, porque é preciso alimentar bem os
atletas de todas as categorias.
Mas a grande novidade vem do tradicional ramo do futebol,
mesmo. Por meio de um decreto prefeitural, a partir de agora, partidas de
futebol que definem campeonato não podem terminar empatadas. Em Uvanova, não tem
mais isso de levar a decisão para a prorrogação e depois para os pênaltis.
“Futebol tem de ser ganho com a bola no pé, correndo dentro das quatro linhas e
chacoalhando as redes; nada de cobrança de pênaltis”, declarou o prefeito em
cadeia municipal de imprensa falada, escrita e fofocada.
Assim, em Uvanova, uma partida decisiva de futebol que
resulte empatada após os 90 minutos regulamentares, entra em ritmo de
prorrogação eterna até o instante em que um dos times marcar um gol e sagrar-se
campeão. Não importa quanto tempo leve (minutos, horas, dias, semanas, meses).
A partida-teste está em andamento já há cinco semanas. Sei que há ainda cinco
jogadores em campo (dois de um time e três de outro); os demais, foram vencidos
pelas cãibras. Na arquibancada, resta o prefeito, monitorando o certame.
Aguardo a próxima remessa de periódicos para saber o desfecho.
(Crônica de Marcos Fernando Kirst publicada no jornal "Pioneiro" em 22 de agosto de 2016)
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