segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Muito além dos 90 minutos

Coisas estranhas acontecem em Uvanova, aquela pequena cidadezinha de colonização italiana encravada no seio da Serra Gaúcha, às margens do Rio das Antas, que faz divisa ao sul com a cidade de Tapariu; ao norte com a localidade de Vila Faconda; a leste com Nova Brócola do Sul e, a oeste, todos dão uma paradinha no final da tarde para apreciar o pôr-do-sol, porque, também, ninguém é de ferro e não dá para preencher a vida só com trabalho, trabalho, trabalho. Mantenho-me informado a respeito dos acontecimentos que movimentam a cidade por meio das notícias impressas no “O Uvanoveiro”, jornal semanal local que fielmente assino e recebo pelo correio com um atraso médio de quatro semanas porque, para economizar selo, são enviadas juntas as quatro edições do mês.
A grande novidade que mexe com o cotidiano dos uvanovenses (“uvanovense” ou “uvanoveiro”, uma das celeumas que chacoalham a comunidade há décadas) provém da área esportiva, mais especificamente do setor futebolístico, uma vez que o futebol é o esporte mais popular entre os nativos, seguido de perto pela esgrima de mêscola e pela bola na sporta. Aliás, a transmissão dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro provocou uma renovação geral do interesse dos uvanovenses pelas mais variadas práticas esportivas e campeonatos os mais diversos surgem em todas as partes pelo município, aquecendo o setor da venda de apitos e o do comércio de pão com salame, porque é preciso alimentar bem os atletas de todas as categorias.
Mas a grande novidade vem do tradicional ramo do futebol, mesmo. Por meio de um decreto prefeitural, a partir de agora, partidas de futebol que definem campeonato não podem terminar empatadas. Em Uvanova, não tem mais isso de levar a decisão para a prorrogação e depois para os pênaltis. “Futebol tem de ser ganho com a bola no pé, correndo dentro das quatro linhas e chacoalhando as redes; nada de cobrança de pênaltis”, declarou o prefeito em cadeia municipal de imprensa falada, escrita e fofocada.

Assim, em Uvanova, uma partida decisiva de futebol que resulte empatada após os 90 minutos regulamentares, entra em ritmo de prorrogação eterna até o instante em que um dos times marcar um gol e sagrar-se campeão. Não importa quanto tempo leve (minutos, horas, dias, semanas, meses). A partida-teste está em andamento já há cinco semanas. Sei que há ainda cinco jogadores em campo (dois de um time e três de outro); os demais, foram vencidos pelas cãibras. Na arquibancada, resta o prefeito, monitorando o certame. Aguardo a próxima remessa de periódicos para saber o desfecho.
(Crônica de Marcos Fernando Kirst publicada no jornal "Pioneiro" em 22 de agosto de 2016)

Nenhum comentário: