“De onde menos se espera, dali é que não sai nada mesmo”.
Soa com uma aragem de renovado frescor a famosa frase do Barão de Itararé
(codinome do humorista e jornalista brasileiro Apparício Torelly, 1895 - 1971)
sempre que perco duas horas de vida doando minha preciosa atenção ao miserável,
sofrível, constrangedor, fiasquento e mascarado “futebol” apresentado pela Seleção
Masculina nas Olimpíadas. Uma vez que não é dali que obterei o prazer de torcer
por brasileiros abnegados lutando verdadeiramente pela conquista de uma medalha
e dando o melhor de si nessa busca, tenho me dedicado a acompanhar outras
modalidades esportivas, algumas cuja existência sequer conhecia, para minha
satisfatória surpresa.
“Não existe esporte chato, existe é esporte pouco
conhecido”, disse algum apresentador televisivo, com o que a prática do
controle remoto acionado a partir do sofá me tem feito concordar. Quem diria
que eu me encantaria por assistir a uma competição de levantamento de peso,
onde sequer havia brasileiros disputando? Detectei ali a presença de técnica;
percebi o resultado prático dos treinos e dos esforços dos atletas; vibrei com
a quebra de recordes e com os instantes de superação. Não sabia que era assim,
e gostei. O desconhecimento me afastava da fruição daquele prazer.
O mesmo se deu com a esgrima. Que emoção acompanhar uma
luta entre dois contendores empunhando floretes, espadas e sabres, empenhados
em tocar, com a ponta de suas armas, o corpo do adversário, em um show de
destreza, agilidade, técnica e treino, muito treino; dedicação, muita
dedicação. Isso sem falar na natação, no futebol feminino, na ginástica
artística, no tênis de mesa, no boxe, no rúgbi (até rúgbi!) e tantas outras
modalidades, com ou sem brasileiros na disputa.
Em todas elas, a detecção de algo em comum, já dito lá em
cima: a presença do esforço, da dedicação, do amor ao esporte, da vontade de se
superar, do orgulho em defender sua bandeira, do treino, da humildade, do
aprendizado com os erros e com as derrotas, tão importantes quanto as vitórias.
Vencer é a meta de cada atleta, sim, mas não é o que o público exige deles. O
que nós exigimos deles é a presença daqueles aspectos citados ali em cima. A
vitória, se vier, será sempre aplaudida, claro. Mas o que aplaudimos ao longo
de toda a Olimpíada é a verdade do esforço e da entrega na busca pelo objetivo,
porque são esses os aspectos que simbolizam a vida diária, e com os quais nos
identificamos. Afinal, batemos recordes pessoais todos os dias e nossa medalha
é o sono reparador à noite.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de agosto de 2016)
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