quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Fugindo dos mascarados

“De onde menos se espera, dali é que não sai nada mesmo”. Soa com uma aragem de renovado frescor a famosa frase do Barão de Itararé (codinome do humorista e jornalista brasileiro Apparício Torelly, 1895 - 1971) sempre que perco duas horas de vida doando minha preciosa atenção ao miserável, sofrível, constrangedor, fiasquento e mascarado “futebol” apresentado pela Seleção Masculina nas Olimpíadas. Uma vez que não é dali que obterei o prazer de torcer por brasileiros abnegados lutando verdadeiramente pela conquista de uma medalha e dando o melhor de si nessa busca, tenho me dedicado a acompanhar outras modalidades esportivas, algumas cuja existência sequer conhecia, para minha satisfatória surpresa.
“Não existe esporte chato, existe é esporte pouco conhecido”, disse algum apresentador televisivo, com o que a prática do controle remoto acionado a partir do sofá me tem feito concordar. Quem diria que eu me encantaria por assistir a uma competição de levantamento de peso, onde sequer havia brasileiros disputando? Detectei ali a presença de técnica; percebi o resultado prático dos treinos e dos esforços dos atletas; vibrei com a quebra de recordes e com os instantes de superação. Não sabia que era assim, e gostei. O desconhecimento me afastava da fruição daquele prazer.
O mesmo se deu com a esgrima. Que emoção acompanhar uma luta entre dois contendores empunhando floretes, espadas e sabres, empenhados em tocar, com a ponta de suas armas, o corpo do adversário, em um show de destreza, agilidade, técnica e treino, muito treino; dedicação, muita dedicação. Isso sem falar na natação, no futebol feminino, na ginástica artística, no tênis de mesa, no boxe, no rúgbi (até rúgbi!) e tantas outras modalidades, com ou sem brasileiros na disputa.

Em todas elas, a detecção de algo em comum, já dito lá em cima: a presença do esforço, da dedicação, do amor ao esporte, da vontade de se superar, do orgulho em defender sua bandeira, do treino, da humildade, do aprendizado com os erros e com as derrotas, tão importantes quanto as vitórias. Vencer é a meta de cada atleta, sim, mas não é o que o público exige deles. O que nós exigimos deles é a presença daqueles aspectos citados ali em cima. A vitória, se vier, será sempre aplaudida, claro. Mas o que aplaudimos ao longo de toda a Olimpíada é a verdade do esforço e da entrega na busca pelo objetivo, porque são esses os aspectos que simbolizam a vida diária, e com os quais nos identificamos. Afinal, batemos recordes pessoais todos os dias e nossa medalha é o sono reparador à noite.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de agosto de 2016)

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