segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Como vencer os Vingadores

O primeiro deles, de cinco anos de idade, imobilizou minha perna direita com um abraço apertado. Tratava-se do Homem-Aranha, segundo informações oriundas do próprio. A Mulher-Maravilha, prima do primeiro, um pouco maiorzinha, imobilizou minha barriga, no que me pareceu um ataque em grupo premeditado. A irmãzinha dela, menor ainda do que o Homem-Aranha, decidiu puxar minha perna esquerda, rosnando e mordendo, jurando ser o Hulk. Não sei se o Hulk morde, mas aquela Mini-Hulka ali mordia. Antes que houvesse um acidente, larguei o copo com o drinque em cima da mesa do restaurante que sediava o jantar comemorativo à formatura de uma integrante da família e dediquei-me a administrar o ataque dos Vingadores a que estava sendo submetido.
Primeiro, tentei dialogar, afinal, professo a teoria de que a diplomacia deve imperar na solução de conflitos. Gritei bem alto que eu era o Homem-de-Ferro, super-herói integrante da equipe dos Vingadores, bem como Hulk, Thor, Capitão América e Homem-Aranha. Ah, não, o Homem-Aranha não é um Vingador, bem lembrado. Mas, mesmo assim, procurei apresentar minhas credenciais de super-herói, mesma condição proposta por todos os três atacantes, porém, não fui muito convincente e logo a Mini-Hulka mordia com mais força, o Homem-Aranha e a Mulher-Maravilha prosseguiam em suas lutas de mentirinha. E riam. Riam muito. Especialmente quando o Homem-Aranha me premiava com jatos de sua teia imaginária e eu, agora inegociável e irremediavelmente travestido em minha condição de supervilão, via-me totalmente subjugado.

Uma menorzinha ainda, vendo a alegria incontida dos três primos à minha volta, começou a se aproximar lá do meio do salão, o vestidinho rosa balouçando sabe-se lá sob quais ideias super-heroísticas e percebi que não suportaria enfrentar um quarto superpoderoso unindo-se ao grupo. Era preciso pensar rápido para desmobilizar aquela situação. “Qual é a cor do Hulk?”, perguntei, de súbito. “Azul!”, gritou a Mini-Hulka, tirando os dentinhos de minha perna esquerda. “Não, é amarelo!”, bradou o Homem-Aranha, mais sabido de todos. “Mas não é verde?”, perguntei eu. “Verde, verde, o Hulk é verde!”, uniram-se todos, Homem-Aranha, Mulher-Maravilha, Mini-Hulka e a pequeninha do vestidinho rosa, já desarmada de saída. “E quem corre mais, o Homem-Aranha, o Hulk ou a Mulher Maravilha?”, emendei, em uma estratégia genial. As respostas se deram por meio de uma desabalada carreira do fantástico quarteto pelo salão, para meu alívio. Nós, supervilões, temos como melhor arma a agilidade de raciocínio.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de agosto de 2016)

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