O primeiro deles, de cinco anos de idade, imobilizou minha
perna direita com um abraço apertado. Tratava-se do Homem-Aranha, segundo
informações oriundas do próprio. A Mulher-Maravilha, prima do primeiro, um
pouco maiorzinha, imobilizou minha barriga, no que me pareceu um ataque em
grupo premeditado. A irmãzinha dela, menor ainda do que o Homem-Aranha, decidiu
puxar minha perna esquerda, rosnando e mordendo, jurando ser o Hulk. Não sei se
o Hulk morde, mas aquela Mini-Hulka ali mordia. Antes que houvesse um acidente,
larguei o copo com o drinque em cima da mesa do restaurante que sediava o
jantar comemorativo à formatura de uma integrante da família e dediquei-me a
administrar o ataque dos Vingadores a que estava sendo submetido.
Primeiro, tentei dialogar, afinal, professo a teoria de
que a diplomacia deve imperar na solução de conflitos. Gritei bem alto que eu
era o Homem-de-Ferro, super-herói integrante da equipe dos Vingadores, bem como
Hulk, Thor, Capitão América e Homem-Aranha. Ah, não, o Homem-Aranha não é um
Vingador, bem lembrado. Mas, mesmo assim, procurei apresentar minhas
credenciais de super-herói, mesma condição proposta por todos os três
atacantes, porém, não fui muito convincente e logo a Mini-Hulka mordia com mais
força, o Homem-Aranha e a Mulher-Maravilha prosseguiam em suas lutas de
mentirinha. E riam. Riam muito. Especialmente quando o Homem-Aranha me premiava
com jatos de sua teia imaginária e eu, agora inegociável e irremediavelmente
travestido em minha condição de supervilão, via-me totalmente subjugado.
Uma menorzinha ainda, vendo a alegria incontida dos três
primos à minha volta, começou a se aproximar lá do meio do salão, o vestidinho rosa
balouçando sabe-se lá sob quais ideias super-heroísticas e percebi que não
suportaria enfrentar um quarto superpoderoso unindo-se ao grupo. Era preciso
pensar rápido para desmobilizar aquela situação. “Qual é a cor do Hulk?”,
perguntei, de súbito. “Azul!”, gritou a Mini-Hulka, tirando os dentinhos de
minha perna esquerda. “Não, é amarelo!”, bradou o Homem-Aranha, mais sabido de
todos. “Mas não é verde?”, perguntei eu. “Verde, verde, o Hulk é verde!”,
uniram-se todos, Homem-Aranha, Mulher-Maravilha, Mini-Hulka e a pequeninha do
vestidinho rosa, já desarmada de saída. “E quem corre mais, o Homem-Aranha, o Hulk
ou a Mulher Maravilha?”, emendei, em uma estratégia genial. As respostas se
deram por meio de uma desabalada carreira do fantástico quarteto pelo salão,
para meu alívio. Nós, supervilões, temos como melhor arma a agilidade de
raciocínio.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de agosto de 2016)
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