sexta-feira, 29 de julho de 2016

Nem as órbitas são eternas

O dia de hoje marca um choque astronômico de que fui vítima, exatos 11 anos atrás, e do qual ainda tento me recompor. O 29 de julho de 2005 entrou para a história da humanidade quando astrônomos internacionais anunciaram que, a partir daquele momento, Plutão perdia seu status de planeta e estava sendo rebaixado à categoria de planeta-anão. “Ah, não!”, exclamei, do sofá da sala de casa. Fiquei astronomicamente chocado com a perda de um planeta no Sistema Solar e tento me recuperar disso até hoje. Até ontem, na verdade, quando obtive mais informações a respeito do caso.
Vamos por partes, como sempre me aconselha um amigo londrino. Desde menininho, lá em minha distante Ijuí natal, eu sabia de cor citar os nove planetas do Sistema Solar, e ainda por ordem de proximidade do Sol: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Sempre com a cabeça metida a rodopiar no mundo da lua, sabia detalhes sobre as características de cada planeta e conseguia, com a ajuda do pai e do avô materno, identificar as majestosas presenças de alguns deles nos céus estrelados da infância. Os nove planetas me eram sagrados e o desbancamento de Plutão mexeu com as estruturas do firmamento de minhas certezas celestes, em 2005. Nada é certo e seguro nessa vida, nesse mundo; nem mesmo no espaço sideral. A qualquer momento, seu status pode ser chacoalhado e cair por terra (ou ficar flutuando pateticamente em órbita mesmo).
Ontem, lendo pela aí, fiquei sabendo que, na verdade, em 2005, os astrônomos descobriram a existência de um outro corpo celeste orbitando o Sol, adiante de Plutão. Acharam que era um novo planeta, o décimo do Sistema Solar, e batizaram-no de Éris. Afoitos, anunciaram ao mundo o aumento da família de planetas de nove para dez. Pouco depois, pesquisando melhor, descobriram que Éris tinha características diferentes dos demais planetas do Sistema e aí criaram uma nova categoria, a de planeta-anão, para enquadrá-lo. E, nessa, perceberam que teriam de incluir também Plutão, o que lhe custou o status de planeta.

Resumo e moral da história: durante muito tempo, Plutão, um planeta-anão, passou vendendo a imagem de planeta, que ele não era. Bastou a tecnologia avançar e detectar, à sombra dele, Éris, feito à sua imagem e semelhança de planeta-anão, para que Plutão fosse desmascarado. Ou seja: farsas não duram para sempre; um dia, a máscara cai e a samambaia aparece. Quem vende aquilo que não é precisa tomar cuidado com a sombra de Éris, aliás, a deusa mitológica da discórdia. E daí, a farsa vai para o espaço.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 29 de julho de 2016)

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