Quem tem ou já teve gatos está
careca de saber que cada gato é um gato. Eu já tive gatos e estou careca de
saber disso (careca também devido à queda capilar decorrente do avançar da
idade, só que isso já é outra história, né, madama, restrinjamo-nos hoje aqui à
questão dos gatos, para que ninguém saia escaldado). Quem diz que os gatos são
todos iguais, evocando a insensata frase “todos os gatos, o gato”, é porque
nunca vivenciou a experiência transformadora de ter em sua companhia mais de um
felino (ao mesmo tempo ou sucessivamente, tanto faz), o que basta para
desmantelar o tolo tabu e comprovar que nem todos os gatos são pardos à noite,
se é que a madama saca a tentativa de metáfora do mundano cronista aqui. Ah, a
senhora também é gateira e concorda comigo? Que bom, madama, gatemos algo em
comum.
Pois então a senhora e eu
podemos afirmar com segurança aos demais leitores (já que hoje a senhora está
irmanada a mim na delicada tarefa de convencer os demais vigilantes destas
diárias mal digitadas linhas a respeito das proposições nelas explicitadas,
exceto quando se trata de abordar a temperatura ideal de servir e consumir o sagu,
o que também é outra história e já deu suficiente guardanapo para manga aqui
nesse espaço, e deixemos disso, pelamordedeus) aos demais leitores que os gatos
não são todos iguais: cada um deles possui nuances de comportamento, de gostos
e quereres que os difere entre si e lhes confere características únicas de
personalidade. É por isso que batizamos nossos gatos com nomes diferentes,
porque um Rodilardo é diferente de um Fips, que em nada se compara a um
Pretinho ou a um Tigrinho, diametralmente opostos a uma Selina, a uma Lucy, a
um Bioy. Cada gato, um gato.
Mas e qual é a explicação para
esse fenômeno tão característico e determinante dos seres que integram essa
espécie felina? Ora, sou apenas um mundano cronista, nada sei de psicologia
gatina, apenas, ao longo dos anos, vivenciei, em vários momentos, o privilégio
de ter em meu cotidiano a companhia de alguns exemplares da espécie. A partir
disso, teci minha teoria, que reside no seguinte: os gatos possuem vida
interior. Os gatos pensam sobre eles mesmos e sobre o mundo que os cerca. Desse
acúmulo sucessivo de sensações, de experiências e de vivências, junto ao hábito
de refletir sobre elas, eles vão tirando as suas conclusões e isso vai moldando
em cada um deles uma personalidade única, especial, irrepetível. Gatos não são
boiada. Não vão para o brejo seguindo a manda. Cada gato é um gato. Para alguns
de nós, eles piscam o olho.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de julho de 2016)
Nenhum comentário:
Postar um comentário