segunda-feira, 18 de julho de 2016

Gatos não são todos pardos

Quem tem ou já teve gatos está careca de saber que cada gato é um gato. Eu já tive gatos e estou careca de saber disso (careca também devido à queda capilar decorrente do avançar da idade, só que isso já é outra história, né, madama, restrinjamo-nos hoje aqui à questão dos gatos, para que ninguém saia escaldado). Quem diz que os gatos são todos iguais, evocando a insensata frase “todos os gatos, o gato”, é porque nunca vivenciou a experiência transformadora de ter em sua companhia mais de um felino (ao mesmo tempo ou sucessivamente, tanto faz), o que basta para desmantelar o tolo tabu e comprovar que nem todos os gatos são pardos à noite, se é que a madama saca a tentativa de metáfora do mundano cronista aqui. Ah, a senhora também é gateira e concorda comigo? Que bom, madama, gatemos algo em comum.
Pois então a senhora e eu podemos afirmar com segurança aos demais leitores (já que hoje a senhora está irmanada a mim na delicada tarefa de convencer os demais vigilantes destas diárias mal digitadas linhas a respeito das proposições nelas explicitadas, exceto quando se trata de abordar a temperatura ideal de servir e consumir o sagu, o que também é outra história e já deu suficiente guardanapo para manga aqui nesse espaço, e deixemos disso, pelamordedeus) aos demais leitores que os gatos não são todos iguais: cada um deles possui nuances de comportamento, de gostos e quereres que os difere entre si e lhes confere características únicas de personalidade. É por isso que batizamos nossos gatos com nomes diferentes, porque um Rodilardo é diferente de um Fips, que em nada se compara a um Pretinho ou a um Tigrinho, diametralmente opostos a uma Selina, a uma Lucy, a um Bioy. Cada gato, um gato.

Mas e qual é a explicação para esse fenômeno tão característico e determinante dos seres que integram essa espécie felina? Ora, sou apenas um mundano cronista, nada sei de psicologia gatina, apenas, ao longo dos anos, vivenciei, em vários momentos, o privilégio de ter em meu cotidiano a companhia de alguns exemplares da espécie. A partir disso, teci minha teoria, que reside no seguinte: os gatos possuem vida interior. Os gatos pensam sobre eles mesmos e sobre o mundo que os cerca. Desse acúmulo sucessivo de sensações, de experiências e de vivências, junto ao hábito de refletir sobre elas, eles vão tirando as suas conclusões e isso vai moldando em cada um deles uma personalidade única, especial, irrepetível. Gatos não são boiada. Não vão para o brejo seguindo a manda. Cada gato é um gato. Para alguns de nós, eles piscam o olho.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de julho de 2016)

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