sexta-feira, 1 de julho de 2016

E nos bufês, o sagu é frio

Não, eu não sou masoquista e não, eu não sou apreciador de ficar levando paulada (nem literal e nem metaforicamente). Mas sou teimoso. E é movido pela mais pura e genuína teimosia que insisto em voltar a abordar aqui nestas mal digitadas linhas a questão (até então inimaginavelmente polêmica) da temperatura ideal para se degustar um bom sagu. Como estou entrando em férias e só volto daqui a duas semanas, trago de novo à tona a batata quente e desapareço pela porta dos fundos, porque já vi que, em terras serranas, forasteiro se meter a desautorizar a temperatura ideal do sagu é mexer em vespeiro sem botar máscara, é entrar no canil com gato no bolso, é puxar a trança da menina sem planejar a rota de fuga.
Podem me xingar, que só vou ficar sabendo na volta, quando o sagu já tiver esfriado e se apresentar bem geladinho, pronto para ser degustado como se deve: frio, gelado, e tenho dito! Sustentei ao longo de duas crônicas passadas meu espanto ao descobrir que, aqui pela Serra, essa terra que me adotou e que admiro com verdadeira paixão, os nativos preferem saborear essa delícia típica, o sagu, em temperaturas que transitam do morno ao quente, chegando, em alguns casos, ao extremo do quentérrimo fumegante. Coisa que muito me causa impressão, pois que, conhecedor que sou de sagu desde a mais tenra infância, prefiro consumi-lo frio, gelado, quase ao ponto de picolé. Abriu-se, então, uma polêmica que o mundano cronista jamais sonhara estar latente, quente como uma tigela de sagu. Fiquei praticamente sozinho em meu gosto, aqui tão alienígena, perdendo de lavada para os adoradores do sagu quente e sendo visto como um ser mais estapafúrdio do que realmente sou.

Teimoso, não me resignei tão fácil ao senso imperante e fui investigar, pois que aqui nesta alma reside também um repórter investigativo. Telefonei para 20 restaurantes da cidade: dez que servem comida a quilo, cinco galeterias e cinco churrascarias. Em todos eles, a sobremesa está incluída. Todos servem sagu no bufê de sobremesas, porque é uma das preferidas dos clientes. E servem o sagu de que forma? Frio! Frio!! Frio!!! Sempre frio! Nenhum estabelecimento gastronômico na cidade serve sagu quente nos seus bufês de sobremesa. Não há réchaud mantendo o sagu aquecido, como se faz com as comidas. O que obriga, então, todos os apreciadores de sagu quente a comerem-no devidamente frio nos restaurantes, ou a torcerem-lhe os narizes e passarem reto rumo ao pudim de gelatina. Quero ver agora o que me dizem. Mas só na volta. Ah, se já esfriou, me passa o sagu. E me fui!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de julho de 2016)

Nenhum comentário: