Remonta a tempos cavernosamente
pré-históricos esse nosso hábito diário (e civilizado) de apertarmos as mãos
uns dos outros como forma de cumprimento. “Eis a primeira mão de um homem
honesto que aperto neste dia”, brincou alguém comigo, dia desses, em certo
lugar, já no avançar da tarde. Ele estava brincando, naturalmente. Não que eu
não seja honesto (eu sou, né, pô!). Mas certamente a minha não foi a única mão
apertada pela dele ao longo do dia até o instante de nosso encontro. É pouco
provável que, até aquele momento, não tenha apertado a mão de ninguém. De
qualquer forma, mesmo sem perceber, meu amigo evocava, por meio do chiste, a
verdadeira essência da origem desse cumprimento tão presente em nosso
cotidiano, gesto ao qual o dia de hoje, por sinal, é dedicado.
Oh, sim, senhora, madama; sim,
senhora, hoje é o Dia do Aperto de Mão. Não fique balançando assim a mãozinha
em sinal de descrença. A senhora não acredita em mim, madama? Quéisso! Cuidado
para não desautorizar a frase de meu amigo, citada ali em cima, hein! Mas é a
mais pura verdade. Dia do Aperto de Mão. Hoje, 21 de junho. Falemos, então,
sobre isso, pois que cronista mundano que se preze precisa ficar atento a essas
peculiaridades da existência, a fim de receber os devidos cumprimentos por seu
trabalho, em especial, apertos calorosos de mãos.
Ao nos aproximarmos
amistosamente de alguém que conhecemos, ou mesmo de alguém que estamos em vias
de conhecer, automaticamente estendemos nossos braços com a mão direita aberta,
pronta para receber nela a mão do outro, envolvê-la com os dedos, apertá-la de
leve e sacudir durante alguns momentos aquele emaranhado de mãos intimamente
unidas. Assim se dá um aperto de mãos, impressionantemente descrito por meio de
palavras, coisa que nem mesmo o mundano cronista aqui se imaginava capaz de
fazer. E apertamos nossas mãos em forma de cumprimento há milênios, desde as
mais antigas tribos de homens pré-históricos, em sinal de amizade e de bons
propósitos em relação ao outro. Sim, porque, ao estendermos ao outro a mão
aberta, demonstramos estarmos desprovidos de armas (pedras, paus, facas, notas
promissórias) com as quais poderíamos ferir e machucar.
Apertar a mão é um sinal de boa
vontade, e há uma arte especial nisso. O aperto precisa ser preciso; nem muito
forte a ponto de esmagar os dedos, nem muito flácido a ponto de murchar o
cumprimento. Existe técnica e ciência até em um prosaico aperto de mãos. O que
há milênios não muda é a necessidade que temos de verificar, entre nossos
semelhantes, gestos genuínos de boa vontade. Toca aqui, madama.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 21 de junho de 2016)
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