Tudo o que você precisa é amor. Escrito
direto assim, o dito sugere que está a expressar a visão de mundo do autor da
mundana croniqueta que ora se apresenta ao crivo da atilada leitora e do
observante leitor. Mas, se devidamente colocada entre aspas (“tudo o que você
precisa é amor”), ela recebe a dimensão de citação com autoria definida, e é
fundamental que saibamos reconhecer os créditos e os méritos de quem os tem. No
caso específico, o crédito da autoria da frase (que, em si, a bem da verdade,
não contempla nada de original, mas encerra uma verdade absoluta e poderosa)
vai para os Beatles, que a tornaram mantra universal há 49 anos (completados
amanhã), a ser lembrado e repetido incessantemente e vindo a calhar em um mundo
cada vez mais conflagrado. Falemos um pouco sobre isso.
Foi na noite de 25 de junho de
1967 que a BBC de Londres reuniu 19 países para promover a histórica primeira
transmissão ao vivo de televisão via satélite. O programa, intitulado “Our
World” (“Nosso Mundo”), teve duas horas e meia de duração e atingiu cerca de
meio bilhão de telespectadores ao redor do planeta, pela primeira vez na
história conectados em tempo real por meio de uma única transmissão de TV, via
satélite (três satélites em órbita da Terra foram conectados e convocados a
atuar em conjunto para viabilizar a revolucionária experiência). Cada uma das
19 nações convidadas foi convidada a ocupar determinado espaço de tempo para
apresentar alguma produção que evocasse aspectos de seu país. Entre diversas
atrações, a Espanha, por exemplo, colocou o pintor Pablo Picasso (1881 – 1973)
a pintar uma tela ao vivo, no ar; a cantora lírica nova-iorquina radicada na
França, Maria Callas (1923 - 1977), soltou a voz, e assim sucederam-se as
atrações. E a Inglaterra, bem, a Inglaterra fez-se representar pelo maior
fenômeno de massa que a cultura pop já havia produzido até então ao redor do
planeta: os Beatles.
Os acordes iniciais da música
(até então inédita), à base de sopros, invadiam a atmosfera enquanto a imagem
em preto e branco aos poucos ia explodindo em cor. Entrava então o refrão de
abertura, “love, love, love”, e lá estavam juntos, ao vivo, penetrando lares do
mundo inteiro, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr,
afirmando que “tudo o que você precisa é amor”. A canção foi composta por
Lennon e McCartney especialmente para o evento. Ganhou o mundo e os corações
das pessoas devido à mensagem simples e profundamente relevante que carrega.
Porque tanto há 49 anos quanto hoje, cada vez mais, tudo o que precisamos é
amor, sim, pelamordedeus!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de junho de 2016)
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