quinta-feira, 16 de junho de 2016

A chave está na autoestima

Autoestima é tudo na vida. Claro, autoestimada leitora, que a frase, assim posta, não passa de um artifício para conferir intensidade ao argumento. Autoestima não é tudotudotudo na vida, sabemos disso, mas é parte importante dela. Seria raso e prepotente querer sustentar que re-al-men-te (liçãozinha básica de separação silábica de graça em meio à mundana crônica, para gáudio do leitor que gosta de ler textos dos quais possa extrair algum proveito e não tem tempo a perder com futilidades literais), que realmente (retomo a linha de raciocínio interrompida pela intercalação do parênteses) autoestima seria na vida tudo. Já escutei arquiteto afirmar que “tudo na vida é arquitetura”; jornalista dizer que “tudo na vida é informação”; cronista mundano escrever que “tudo na vida é mundanismo crônico” e até filósofo ponderar que “tudo na vida é nada e o nada é tudo”, mas, nesse caso, fiquei boiando e saí de fininho, para não passar recibo de anta. Sou anta, mas não passo recibo.
Não passo recibo porque, sim, tudo é mesmo uma questão de autoestima, e agora reafirmo o axioma um pouco mais assertivo e convicto. Gostamos de poder ir dormir à noite, deitar a cabeça no travesseiro e deixarmos se aproximar o sono, de mansinho, imersos em um sorriso de satisfação por julgarmo-nos seres interessantes, bacaninhas, especiais, únicos, agradáveis e passíveis de receber todo esse amor que por nós mesmos cultivamos. É bom sermos possuídos por doses sadias de autoestima, pois que ela age como um bálsamo para os males do espírito e como combustível para recompor as forças de que necessitamos para enfrentar as batalhas que se nos apresentam em diversos campos ao longo dos dias.
As redes sociais parecem cumprir um papel importante na geração de instrumentos capazes de amplificar nossa autoestima, quando nos oferece brincadeirinhas nas quais devemos ingressar em um determinado site, responder a algumas perguntas e pimba: é revelado aquilo que somos, ou com o que parecemos. Entre os animais, você pode ser um brioso cavalo ou um misterioso felino; entre os objetos, um charmoso livro a ser decifrado ou uma saborosa taça de vinho; entre as flores, uma delicada rosa ou um perfumado jasmim. Há delícia maior do que ir dormir imaginando-se um perfumado jasmim? Tudo de bom para a autoestima.

Já eu, nunca respondo a esses questionários. Fico temeroso quanto ao resultado. Não quero ir dormir sabendo que não passo de um gafanhoto faminto, uma pantufa rasgada ou uma samambaia seca. Minha autoestima não suportaria. Já basta ser cronista mundano.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de junho de 2016)

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