Autoestima é tudo na vida.
Claro, autoestimada leitora, que a frase, assim posta, não passa de um
artifício para conferir intensidade ao argumento. Autoestima não é tudotudotudo
na vida, sabemos disso, mas é parte importante dela. Seria raso e prepotente
querer sustentar que re-al-men-te (liçãozinha básica de separação silábica de
graça em meio à mundana crônica, para gáudio do leitor que gosta de ler textos
dos quais possa extrair algum proveito e não tem tempo a perder com futilidades
literais), que realmente (retomo a linha de raciocínio interrompida pela
intercalação do parênteses) autoestima seria na vida tudo. Já escutei arquiteto
afirmar que “tudo na vida é arquitetura”; jornalista dizer que “tudo na vida é
informação”; cronista mundano escrever que “tudo na vida é mundanismo crônico”
e até filósofo ponderar que “tudo na vida é nada e o nada é tudo”, mas, nesse
caso, fiquei boiando e saí de fininho, para não passar recibo de anta. Sou
anta, mas não passo recibo.
Não passo recibo porque, sim,
tudo é mesmo uma questão de autoestima, e agora reafirmo o axioma um pouco mais
assertivo e convicto. Gostamos de poder ir dormir à noite, deitar a cabeça no
travesseiro e deixarmos se aproximar o sono, de mansinho, imersos em um sorriso
de satisfação por julgarmo-nos seres interessantes, bacaninhas, especiais,
únicos, agradáveis e passíveis de receber todo esse amor que por nós mesmos
cultivamos. É bom sermos possuídos por doses sadias de autoestima, pois que ela
age como um bálsamo para os males do espírito e como combustível para recompor
as forças de que necessitamos para enfrentar as batalhas que se nos apresentam
em diversos campos ao longo dos dias.
As redes sociais parecem cumprir
um papel importante na geração de instrumentos capazes de amplificar nossa
autoestima, quando nos oferece brincadeirinhas nas quais devemos ingressar em
um determinado site, responder a algumas perguntas e pimba: é revelado aquilo
que somos, ou com o que parecemos. Entre os animais, você pode ser um brioso cavalo
ou um misterioso felino; entre os objetos, um charmoso livro a ser decifrado ou
uma saborosa taça de vinho; entre as flores, uma delicada rosa ou um perfumado
jasmim. Há delícia maior do que ir dormir imaginando-se um perfumado jasmim?
Tudo de bom para a autoestima.
Já eu, nunca respondo a esses
questionários. Fico temeroso quanto ao resultado. Não quero ir dormir sabendo
que não passo de um gafanhoto faminto, uma pantufa rasgada ou uma samambaia
seca. Minha autoestima não suportaria. Já basta ser cronista mundano.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de junho de 2016)
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