terça-feira, 24 de maio de 2016

Um expresso, sem pressa

Maio já está no final, o outono ainda aconchega e as portas da nova estação começam a ser entreabertas para dar lugar ao inverno (que só chega de fato em 21 de junho). Mas já faz tempo que anda um frio de lascar aqui por essas plagas sulinas e serranas e é aí que a gente percebe como foram felizes aqueles que, sabe-se lá quando e como, decidiram situar no final de maio a data para celebrar o Dia Nacional do Café, 24 de maio, hoje, senhores leitores, senhoras leitoras.
Ah, um café quentinho, saboroso e aromático, em meio a esses dias gelados, tem o seu valor, não é mesmo? Seja ele feito em máquina, seja passado, seja preparado em casa ou nas cafeterias, na lancheria da esquina, no escritório, na repartição, servido por um amigo ou na reunião de negócios, um cafezinho sempre cai bem, especialmente para acompanhar a queda da temperatura nos termômetros. Existem os mais requintados, criados para agradar aos paladares mais exigentes, como o cappuccino, o mocaccino, o irlandês (com conhaque), o gringolês (com graspa) e tantos outros. Mas a vedete mesmo, de norte a sul, de leste a oeste, segue sendo e sempre será o bom, honesto, simples e saboroso expresso, o rei dos cafezinhos.
“Dá um expresso”, pedimos ao garçom solícito ou à barista simpática. Quanto mais íntimos (do garçom, da barista e/ou do café), pedimos um “expressinho” mesmo e logo vem ele, fumegante, antecipando prazerosos goles de quentura e sabor. E, vem cá, cafeinado leitor, chantillística leitora, você sabe a origem do termo ”expresso” para o nosso cafezinho do dia-a-dia? Porque é feito rapidamente, a senhora diz? Nananinanina! Ledo Ivo engano! Deixa o mundano (mas esforçado) cronista aqui elucidar. O termo tem origem na língua italiana, “espresso”, que significa “espremido”, “esmagado”, fazendo referência ao método de preparo do café por meio de máquinas (essas cafeteiras que existem em todas as cafeterias) nas quais um jato de água quente passa com muita pressão pelos grãos de café, espremendo-os e deles extraindo o líquido que vamos consumir na condição de “café expresso”, ou “café espremido”.

Nada a ver com “rapidinho”, portanto. O termo “expresso” acabou ganhando contornos de “rápido” por conta da automação dos processos em geral na sociedade moderna. “Pegar um expresso”, “entrar na via expressa”, “fazer uma visita expressa”, derivaram disso e evocam pressas. Mas o nosso café expresso segue sendo apenas espremido, mesmo, a ser degustado com todo o ritual manso e tranquilo necessário para dele extrair parcelas dos bons sabores da vida. Vai um aí?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de maio de 2016)

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