terça-feira, 17 de maio de 2016

Os sedutores mistérios do sax

Sou um devotado fã do som oriundo do instrumento musical conhecido como saxofone. Adoro escutar um saxofone. Quando bem tocado, então, acho melhor ainda. Solos de saxofone me conquistam mais do que solos de guitarra, ousaria eu escrever, caso não contivesse a frase uma perigosa incongruência, porque, convenhamos, gostar de saxofone é uma coisa, mas querer meter o sax em tudo, também, não dá. Solos de guitarra têm seu valor, especialmente quando inseridos em uma faixa de rock. Keith Richards, se estiver lendo, balança a cabeça em absoluta concordância, aposto. Mas Keith e os demais Stones não abrem mão da presença do músico Bobby Keys em sua banda de apoio, pois que ele traz o sax e tece solos fantásticos no meio de uma que outra composição.
Sim, um bom sax tem o seu valor. Acho que meus ouvidos começaram a ter sua atenção atraída ao instrumento devido a um disco (LP em vinil) que meus pais possuíam e botavam a tocar no aparelho três-em-um lá em nossa casa na Rua dos Viajantes, em Ijuí, na distante década de 1970, que abrigou parte de minha infância e adolescência. Lembro até da capa: fundo azul com uma estátua em primeiro plano e um enorme saxofone sobreposto à imagem. Faço uma nostálgica busca google e lá está o disco, achei! Trata-se de “Reverie en Sax”, disco do saxofonista italiano Fausto Danieli, pseudônimo de Fausto Papetti (1923 – 1999). O que levou Papetti a manter seu Fausto e trocar o sobrenome? Não encontrei explicação. Nem para isso e tampouco para a razão que o levava a inserir fotos de belas moças seminuas na maioria das capas de seus discos. O universo do sax acalenta segredos insondáveis, creio eu.
Insondáveis e fascinantes. Tanto é assim que alguns dos maiores escritores e intelectuais do mundo moderno são apaixonados pelo instrumento e dedicados praticantes. O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo é um deles. O cineasta norte-americano Woody Allen é outro. Eu, mero cronista mundano, longe de ser intelectual e tampouco músico, me restrinjo a admirar o instrumento e a procurar por sua aparição nas músicas que aprecio (as faixas do Kid Abelha, por exemplo, são repletas dessas surpresas, por conta do George Israel). Seguindo as pesquisas, descobri que o saxofone foi inventado na metade do século 19 por um belga chamado Adolphe Sax. Daí o nome. Viram só? É nessas horas que se percebe como a História é sábia. O mundo tem sorte de eu não me meter a tocar saxofone. E mais sorte ainda de eu não ter inventado nenhum instrumento. Quem iria querer tocar um kirstofone?

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de maio de 2016)

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