quinta-feira, 5 de maio de 2016

O milagre do santo da casa

Não é preciso ir longe para buscar o que se tem de bom aqui, tão perto. Sábia a aldeia que sabe reconhecer a existência das gentes de talento entre as gentes da própria aldeia. Abençoada a casa que possibilita a manifestação dos milagres de seus santos, evitando que eles (os santos, os gênios, os artistas) precisem mudar de aldeia ou fugir de casa para encontrar acolhimento e reconhecimento aos milagres de suas artes e de seus talentos. Temos a tola e viciada propensão a admirar aqueles que estão longe de nós, reconhecendo-lhes o valor, ao passo em que cegamos nossa sensibilidade para admitir e detectar a qualidade (muitas vezes imensamente superior) daqueles que nos cercam e estão ao nosso lado no dia a dia.
Caxias do Sul é uma cidade privilegiada nesse aspecto. Não precisamos procurar exemplos de empresários de sucesso fora de nossas fronteiras, pois somos um caldeirão formador de lideranças dessa estirpe aqui mesmo e nem preciso gastar linhas elencando nomes. Também não precisamos invejar outros municípios por sediarem empresas líderes nacionais (e internacionais) em seus segmentos, pois temos disso aqui de sobra. Políticos honestos, desvinculados de falcatruas e focados nas questões da cidade, os temos também, pois que nossos prefeitos e vereadores e secretários, ao longo dos anos, no geral, são exemplo de trabalho e dedicação séria e ilibada. Em todas as áreas de atuação, possuímos profissionais de qualidade e valor, desde o mais anônimo até as lideranças.
No campo das manifestações artísticas, então, temos para dar e vender, mas não os daremos e não há preço que os pague. São de qualidade nacional (quiçá internacional) manifestações como nosso Coral Municipal, a Orquestra Municipal, a Companhia Municipal de Dança; nossas companhias e grupos teatrais e poderia me dedicar a elencar fileiras intermináveis de talentos em áreas como literatura, música, artes plásticas, fotografia, cinema, vídeo, quadrinhos, arte de rua, esportes em geral, artes gráficas, jornalismo... Temos produção intelectual dentro e fora de nossas faculdades, somos referência em centenas de frentes.

A questão agora é passarmos a ser também referência na capacidade de sabermos reconhecer, prestigiar e defender nossos talentos. É preciso também talento para saber reconhecer o talento que mora ao lado, que habita a alma de nosso vizinho. É preciso também generosidade e desprendimento. Eis aí, talvez, um segmento que ainda nos falte exercitar com mais assiduidade. Mas acredito em nós. Chegaremos lá também nisso.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de maio de 2016)

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