Há dias em que a sorte decide
lembrar de você e coloca seu nome na lista daqueles que, hoje, serão bafejados
por ela. Sim, porque, conforme a sabedoria dos adágios populares, a sorte
bafeja (e quem sou eu para colocar em xeque os adágios populares). Existem
aqueles que são lembrados mais amiúde por ela (a sorte) do que outros. Daí que
surge mais uma classificação reducionista das gentes do mundo: os sortudos e os
menos sortudos (não vou chamar ninguém de azarado aqui nesta crônica, que se
pretende mundana e democrática, acolhedora e gentil). A turma do Pato Donald
(os menos sortudos) e a turma do Gastão (os sortudos), para animar quem teve a
sorte de ler historinhas de Walt Disney na infância.
Eu pertenço à turma do Pato
Donald, pois que não sou lá dos mais assíduos a integrar a lista de lembranças
da sorte em suas bafejadas pela aí. Não que tenha motivos para me queixar da
vida, muito pelo contrário, posso ser, sim, considerado um sujeito de sorte em
diversos aspectos. Mas me refiro àquele tipo de sorte que se revela em nosso
cotidiano por meio dos pequeninos fatos que servem para estampar um sorriso de
boa surpresa em nossos rostos. Ganhar uma torta em rifa de almoço comunitário, entrar
na fila mais rápida entre os caixas do supermercado, essas coisas.
De minha parte, considero muita
sorte quando deparo com um garçom ou garçonete que vai com a minha cara. Tem
coisa melhor do que ser atendido com extremada simpatia por garçom ou garçonete
em bar, restaurante, boteco, evento? Não tem. E, nisso, muitas vezes, tenho
sorte. Fui bafejado nesse aspecto no final de semana que passou, quando
compromissos profissionais me obrigaram a chegar atrasado, no meio da tarde, à
festa de aniversário de quatro anos de meu afilhado. Esforçado dindo, ainda
cheguei a tempo de me unir ao coro dos parabéns. Porém, a comilança
generalizada (perpetrada, em festas de crianças, pelos adultos) já havia
desacelerado. Mesmo assim, uma simpática garçonete fez-me o mimo de aterrissar
à minha frente dois pratos repletos de cachorrinhos-quentes, pães-de-queijo e
minipizzas aquecidos especialmente para mim. Não é uma sorte?
Mas também acho algumas outras
coisas em relação a isso. Acho que é possível atrair os bafejos da sorte e
fazer por merecer ser lembrado por ela, sendo incluído com mais frequência em
sua lista diária. Não acredito no mantra do braço cruzado. Estou convicto de
que é possível provocar a aterrissagem do prato de cachorrinhos-quentes, bem
como atrair a gentileza dos garçons. Qual o segredo? Ah, fale com o Gastão...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de maio de 2016)
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