terça-feira, 10 de maio de 2016

Na alça de mira da sorte

Há dias em que a sorte decide lembrar de você e coloca seu nome na lista daqueles que, hoje, serão bafejados por ela. Sim, porque, conforme a sabedoria dos adágios populares, a sorte bafeja (e quem sou eu para colocar em xeque os adágios populares). Existem aqueles que são lembrados mais amiúde por ela (a sorte) do que outros. Daí que surge mais uma classificação reducionista das gentes do mundo: os sortudos e os menos sortudos (não vou chamar ninguém de azarado aqui nesta crônica, que se pretende mundana e democrática, acolhedora e gentil). A turma do Pato Donald (os menos sortudos) e a turma do Gastão (os sortudos), para animar quem teve a sorte de ler historinhas de Walt Disney na infância.
Eu pertenço à turma do Pato Donald, pois que não sou lá dos mais assíduos a integrar a lista de lembranças da sorte em suas bafejadas pela aí. Não que tenha motivos para me queixar da vida, muito pelo contrário, posso ser, sim, considerado um sujeito de sorte em diversos aspectos. Mas me refiro àquele tipo de sorte que se revela em nosso cotidiano por meio dos pequeninos fatos que servem para estampar um sorriso de boa surpresa em nossos rostos. Ganhar uma torta em rifa de almoço comunitário, entrar na fila mais rápida entre os caixas do supermercado, essas coisas.
De minha parte, considero muita sorte quando deparo com um garçom ou garçonete que vai com a minha cara. Tem coisa melhor do que ser atendido com extremada simpatia por garçom ou garçonete em bar, restaurante, boteco, evento? Não tem. E, nisso, muitas vezes, tenho sorte. Fui bafejado nesse aspecto no final de semana que passou, quando compromissos profissionais me obrigaram a chegar atrasado, no meio da tarde, à festa de aniversário de quatro anos de meu afilhado. Esforçado dindo, ainda cheguei a tempo de me unir ao coro dos parabéns. Porém, a comilança generalizada (perpetrada, em festas de crianças, pelos adultos) já havia desacelerado. Mesmo assim, uma simpática garçonete fez-me o mimo de aterrissar à minha frente dois pratos repletos de cachorrinhos-quentes, pães-de-queijo e minipizzas aquecidos especialmente para mim. Não é uma sorte?

Mas também acho algumas outras coisas em relação a isso. Acho que é possível atrair os bafejos da sorte e fazer por merecer ser lembrado por ela, sendo incluído com mais frequência em sua lista diária. Não acredito no mantra do braço cruzado. Estou convicto de que é possível provocar a aterrissagem do prato de cachorrinhos-quentes, bem como atrair a gentileza dos garçons. Qual o segredo? Ah, fale com o Gastão...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de maio de 2016)

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