segunda-feira, 16 de maio de 2016

Coincidências nas esquinas do rock

Uma vez convencido pelo luso poeta de que “tudo é símbolo e analogia”, sendo  possível extrair significados a partir da observância metafórica das coisas do mundo, é natural que também germine na alma do cronista uma irresistível inclinação a valorizar e evidenciar coincidências. Difícil uma coincidência passar batida ao olhar de quem busca permanentemente encontrar sentido até mesmo nas meras incongruências do existir. Na maioria das vezes, uma coincidência não passa disso mesmo: apenas uma coincidência. Mesmo assim, jamais deixará de exercer sobre essa categoria de observador o seu poder de fascínio e encantamento.
Isso posto, vamos aos fatos. A data de 16 de maio, por exemplo, exerce certa espécie de fascínio inexplicável sobre algumas das principais mentes criativas do universo do rock mundial, a ponto de se tornar referência em termos de lançamentos de obras que o passar do tempo tratou de tornar icônicas. Coincidências? Vai saber. Se sim ou se não, de qualquer forma, vale a pena se debruçar um pouco sobre os fatos, nem que seja para, pelo menos, agradar momentaneamente aquela parte da alma (ou do cérebro) que se deleita com o sabor das coisas incomuns. Meio século atrás, em 16 de maio de 1966, a banda norte-americana de pop-rock The Beach Boys trazia a público aquele que viria a se tornar um dos grandes e revolucionários clássicos da música contemporânea: o álbum “Pet Sounds”. O disco inovou e avançou no quesito ampliação do espectro de sons, instrumentos e arranjos que o universo pop estava habituado a praticar extraindo proveito máximo dos recursos disponíveis em estúdio, como resposta direta ao que o líder da banda, Brian Wilson, detectara ao escutar o álbum “Rubber Soul”, dos Beatles, lançado um ano antes, do outro lado do Atlântico (em contrarresposta a “Pet Sounds”, os Beatles viriam, em 1967, com “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band”, e o resto é História).

No mesmo dia e no mesmo ano (16 de maio de 1966), Bob Dylan lançava um de seus mais criativos e fundamentais álbuns, “Blonde on Blonde”, traçando e consolidando sua iminência no cenário folk-rock. Catorze anos depois, no mesmo 16 de maio, o ex-beatle Paul McCartney vinha a público com seu marcante “McCartney II”, pontuando com alto estilo a retomada de sua carreira-solo após o fim da banda que formou depois dos Beatles, os Wings. E, afinal, o que quer dizer tudo isso? Ora, absolutamente nada, afinal, são meras coincidências. Que servem para quê? Ora, pelo menos, como convite para relaxar ao som de excelentes dicas musicais no começar da semana.  E nem precisam agradecer.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de maio de 2016)

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