Aconteceu em um dia 26 de maio e
o fato está devidamente registrado nos livros de História. O ano era 1828 e, o
cenário, uma praça pública localizada na área central da cidade de Nuremberg,
na Alemanha (não são poucas as coisas bizarras que a História costuma registrar
tendo Nuremberg como palco, mas isso já é outra história). Amanheceu o dia e ele
estava lá, não se sabe vindo de onde, nem como chegara ali e, o mais estranho,
ninguém conhecia sua identidade. Começava ali o imbróglio que viria a ficar
conhecido como “O Enigma de Kaspar Hauser” (virou até filme sob a batuta de
Werner Herzog, em 1974). E nós com isso? Já veremos, madama, acompanhe.
A julgar pela conformação
física, o estranho aparecido do nada em Nuremberg parecia ter cerca de 15 anos
de idade. Não sabia falar e demonstrava visíveis traços de incompatibilidade
social. Encontrou-se em seus bolsos uma carta endereçada ao administrador da
cidade, na qual sua história era relatada (bem como seu suposto nome revelado),
um livro de orações e alguns objetos que indicavam pertencer ele à nobreza. Na
carta constavam os elementos que faziam descer um manto de surrealidade sobre
sua suposta história de vida. O texto afirmava que Hauser havia passado a vida
toda preso em uma masmorra, na mais completa escuridão, tendo sido alimentado
apenas a pão e água. Por isso, não aprendera nenhuma língua e apresentava
sinais de atraso mental.
A comunidade local adotou Kaspar
Hauser e sua história logo ganhou fama mundial. Muitos acreditavam que ele
poderia ser o príncipe herdeiro da família real da região de Baden, sequestrado
do berço na mesma época em que Hauser parecia ter nascido. Recentes exames de
DNA cruzando uma mancha de sangue das vestes de Hauser (guardadas em um museu)
e os dados de descendentes da Casa de Baden derrubam a tese do parentesco.
Kaspar Hauser foi assassinado com uma facada no peito em 1833, quando
tinha cerca de 21 anos de idade. O crime jamais foi resolvido.
Muito se tem estudado sobre esse
mistério e vários historiadores hoje acreditam que Hauser não passava de um
garoto bastardo, filho ilegítimo de pessoas ricas e abandonado pela família, que decidira
inventar a historia da masmorra para angariar a simpatia das pessoas. Seria,
assim, um dos maiores impostores da História. De lá para cá, vários outros vêm
se esforçando para roubar-lhe esse título, independentemente de país e de época
em que atuem. Kaspar Hauser não está sozinho nessa tribo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de maio de 2016)
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