Agora sim, parece que a coisa
vai! A partir de novos aportes de recursos (bilionários recursos, ressalte-se),
provenientes de entusiasmados apoiadores particulares endinheirados, do porte
de empresas como Google, HP, Microsoft e outros, o Projeto SETI (sigla inglesa para
o Instituto de Busca por Inteligência Extraterrestre) ganha novo fôlego. A iniciativa
reúne cientistas de todas as ordens e de diversas nacionalidades que, a partir
do rastreamento do universo em busca de sinais de ondas de rádio, vem
acumulando e estudando dados desde a década de 1960 na esperança de identificar
vida inteligente e adicioná-la às redes sociais terráqueas.
Como, ao longo das décadas, não
se conseguiu detectar bulhufas, a grana dos investidores foi minguando,
minguando... Porém, agora, com a súbita renovação do interesse pela coisa, 42
antenas ultramodernas foram instaladas na Califórnia para dar sequência ao
projeto de rastrear o universo em busca de sinais de vida inteligente. Um
aspecto que me chama a atenção de cara é que todas as 42 antenas estão, desde
já, posicionadas DE COSTAS para a Terra. Ou seja, levo fé nos cientistas, pois
eles não desperdiçam tempo com bobagens. Ora, se o propósito é procurar sinais
de vida INTELIGENTE, então, não é para a Terra que eles vão direcionar a mira
das antenas. O saudoso humorista brasileiro Barão de Itararé não era cientista,
mas já antecipava que “de onde menos se espera, dali é que não sai nada mesmo”.
Portanto, olhos e ouvidos pregados no céu!
As antenas do Projeto SETI estão
imbuídas de uma missão que lembra a saga pessoal a que se impôs o filósofo
Diógenes, que viveu na Grécia entre os séculos três e quatro antes de Cristo.
Tendo ficado muito pobre, diz-se que morava dentro de um imenso barril e que,
durante o dia, perambulava pelas ruas de Atenas portando uma lamparina acesa.
Quando indagado a respeito daquela atitude estranha, respondia que estava à
procura de um homem honesto. Difícil missão a que se impôs Diógenes. Não sei se
encontrou o objeto de sua procura e, para alívio geral das nações e das
gerações humanas posteriores, deu por encerrada a busca assim que morreu.
Eu, assim que ficar bilionário,
vou subornar os cientistas do Projeto SETI para que reprogramem pelo menos uma
das antenas e direcionem-na para a Terra, a fim de dar continuidade ao projeto
de Diógenes, que acho de maior valia e de mais premência. Hein? Que disse a
senhora? Ah, sim, claro. Subornar, não, sugerir. Sim, desculpe, foi vício de
linguagem, afinal, sou terráqueo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de abril de 2016)
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