Ah, mas de hoje não passa! Desde
que comecei a assinar este espaço neste periódico, sinto-me, como em nenhum
momento antes, determinadamente preparado e inspirado para abordar o assunto. E
agora, vai. Prepare-se, estimado leitor; prepare-se, prestimosa leitora. Algo
novo está a se descortinar por estas mal digitadas linhas na edição de hoje.
Sim, porque, depois de tanto protelar, hoje eu falarei sobre o tema.
Aqueles que esperavam do mundano
cronista um posicionamento, terão, então, hoje, esse posicionamento. Saberão se
é vermelho ou azul, preto ou branco, gato ou cachorro, cravo ou rosa, queijo ou
goiabada. A era do equilíbrio claudicante por cima de muros e grades
pontiagudas finou-se. Lugar de pelicano é no mato, já dizia a minha avó, seja
lá o que ela quisesse dizer com isso, mas que ela dizia, ah, isso dizia, e
sacudindo o longo e fino dedo indicador da mão direita apontado direto para os
narizes de nós todos, os netos. E se tem coisa que netos possuem de sobra é
nariz, que costumam ficar enfiando onde não são chamados. “Lugar de pelicano é
no mato!”. Ah, se é! O nariz agora foi chamado, e está pronto para entrar em
cena.
E vou dizer o que penso sem
destemor, sem meias-palavras, porque quem me lê e me acompanha sabe que, aqui
neste espaço, uso sempre as palavras inteiras, conforme é meu direito e amparado
no auxílio atento do corretor do word que se apressa a concluir por conta
própria qualquer palavra que eu me enfie a digitar, impossibilitando, mesmo que
eu assim o desejasse, o uso de palavras pela metade. Palavras usam-se inteiras,
no pleno vigor de suas cargas cognitivas, significado e significante, símbolo e
analogia. Signo é signo, e o meu é câncer, obrigado. Nada ficará pela metade
aqui. Doa a quem doer, incomode a quem incomodar. Perderei amizades na rede social, serei
bloqueado por uns e aclamado por outros, pagando o preço justo decorrente do
posicionamento, que é o fim da unanimidade. Cronistas mundanos jamais são
unânimes.
Abusarei dos períodos longos e
intercalados, repletos de apostos e vírgulas – até travessões serão conclamados
a vir em auxílio da empreitada –, atropelando a forma em favor do conteúdo
porque, sim, há momentos em que os fins justificam os meios, especialmente
quando temos dois anos de idade e fazemos cara de choro ao pedirmos mais um
chocolate. Direi e nada temerei. Mas eis que a coluna chega ao final. Ah, que
pena! Queria dizer que sou contra a prolixidade. Sou contra!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 25 de abril de 2016)
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