quinta-feira, 24 de março de 2016

A verdadeira face de Bia

Bia. Falemos sobre Bia. Convido-os a deixar de lado por alguns minutos os afazeres do dia e acompanhar esta reflexão a respeito de Bia, porque acho que Bia merece. Bia. O nome, por si, já é pouco comum. Digo isso e logo vão entender a razão. Claro, talvez seja apelido de “Bianca”, o que é o mais provável, mas não sei, não posso afirmar, ninguém me disse nada a respeito. Apenas apresentaram-na como Bia e pronto. Desde então, Bia não me sai dos pensamentos.
Fomos apresentados no último final de semana, ao descermos do carro para uma visita a alguns parentes residentes no interior de Uvanova, no Travessão Fortaio. Apeamos do veículo e logo fomos recebidos por Bia, que veio se aproximando sorridente, desprovida de cerimônias, visivelmente alegre a esbanjando hospitalidade. Não lembro bem, mas parece que ela tem cerca de oito ou dez anos de idade, porém, sua estatura avantajada nos fez imaginá-la mais velha. De qualquer forma, causou-nos impressão a sua aproximação ao nosso pequeno grupo.
Eu logo presumi que ela era de boa paz, apesar da trinca de latidos guturais que emitiu ao descermos do carro. Isso fazia parte de seu show particular a fim de justificar as atribuições que lhe cabem por natureza, mas não insistiu muito naquilo. Logo baixou a cabeça e se achegou a mim, enorme como um bezerro, abanando a cauda e lambendo a mão que eu lhe oferecia em sinal de amizade. Fiz-lhe cafuné na cabeça, ela piscou os olhos, acelerou o abano da cauda e ergueu-se, colocando as duas patas dianteiras sobre meus ombros, ficando quase da minha altura, ereta. Fui abraçado por Bia, que revelou-se afável, apesar de grande e do latido ameaçador que remete a um rottweiler.

Os familiares que desejávamos visitar foram surgindo em seguida, depois de feita a devida recepção inicial por Bia, que insistia em seguir enrodilhando-se em nossas pernas a pedir carinho e interação. Foi quando recebemos informações sobre ela como nome, idade e índole, que, insistiam os donos, é pacífica. Não morde ninguém. Nunca. É um doce. Saímos de lá convencidos disso, mas a convicção durou pouco. À noite, visitando outros parentes, dessa vez na Linha Struffoli, ficamos chocados com a revelação de outra tia, quando ouviu nosso relato a respeito de Bia. “É, só que eu não posso ir até lá sem avisar antes para que a prendam, porque, a mim, ela morde”. Pô, Bia! Tua moral durou pouco! Não foi preciso nem CPI e nem operação da Polícia Federal para vir à tona teu lado obscuro! Não se pode mais colocar a mão no fogo por ninguém. Nem mesmo a pata.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de março de 2016)

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