quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Terapia fonada

Fui vítima de uma dose vendavalesca de gentileza na manhã de segunda-feira (“próxima passada”, como diriam os de antanho, termo bastante comum entre aqueles que viveram nos tempos em que se escrevia e se remetia cartas). Não é comum sermos alvos de gentilezas inesperadas no iniciar de uma semana, especialmente em uma segunda-feira, dia tão injustamente malquisto por gatos alaranjados e por aqueles que estão infelizes com seus trabalhos, com suas situações no mundo, com coisas externas e internas. Como não sou alaranjado, nem gato, e tampouco ando infeliz, não preciso muito para que alguma boa surpresa ilumine meu começo de semana.
Mas ah! Um elogio... Um elogio amplo, sincero, desbragado, entregue diretamente por telefone pela pessoa disposta a elogiar, sem papas na língua, isso tem o poder de furar toda nuvem carregada que eventualmente se esteja armando nos céus da existência de qualquer mortal. A prática, por sinal, tem sido usada com tanta raridade entre as gentes do mundo hodierno (“hodierno” é outro termo arcaico usado pelas pessoas de antanho, daquele mesmo antanho das missivas, das epístolas e do agir humano) que chega a paralisar a pessoa-alvo das frases elogiosas. Confesso que fiquei boquiaberto, estupefato, feliz e radiante com o fluir da cascata de elogios, enquanto os recebia.
Não há presente melhor a ser compartilhado do que um elogio espontâneo, sincero e – o melhor de tudo – inesperado. Isso renova as baterias, recarrega as forças vitais, esculpe no rosto um sorriso, protagoniza na alma uma faxina, rejuvenesce a pele, elimina rugas, interrompe a queda de cabelos, desintoxica o organismo, expulsa radicais livres, exorciza fantasmas de todas as estirpes. Acho até que emagrece. Bom, se emagrece, não sei, mas que nos deixa mais leves, deixa. Senti-me, segunda-feira passada, flutuando sobre nuvens ao encerrar do simpático telefonema.

E o que ganhou com isso a pessoa que telefonou? Ora, seguramente ganhou em dobro tudo aquilo que produziu em mim e, de lambuja, a alegria de ter feito uma ação humana de inestimável valor sem gastar nada, ou, no pior das hipóteses, apenas o custo de uma ligação urbana de cinco minutos. Bem mais barato do que qualquer produto ou técnica de rejuvenescimento. Além disso, tirou das cinzas do esquecimento um ato de extrema civilidade, comprovando que nem tudo está perdido e que não estamos sós. O mundo, prezado leitor, estimada leitora, não foi totalmente tomado pelos “odiadores”. Ele ainda tem, sim, lugar para gente.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de janeiro de 2016)

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