terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Rosquinha de ouro

Bom, né, madame, daí é aquela coisa que a senhora já sabe: você acorda de manhã cedinho, toma seu desjejum sem esquecer das pílulas e do cereal, dá uma passada de olhos nos jornais do dia, confere os apontamentos na agenda para lembrar dos compromissos, dá-lhe de novo aquela espreguiçada para exorcizar a lerdeza e põe-se a navegar, já que também somos normais, como todo mundo. Navega pra lá, navega pra cá até que encontra um site interessante onde atracar por alguns minutos o barco conduzido pelo mouse do notebook. É aí que surgem as coisas, como já podemos prever.
A senhora sabe, né, nosso pacto: aquilo de estranho e estapafúrdio que eu descubro, logo trato de compartilhar com a madama, para que depois não venha me acusar de não lhe informar as coisas e a senhora ficar pagando mico com cara de lontra entre as amigas na hora do chá, a xícara suspensa na mão a meia viagem entre o pires e os beiços, todas elas comentando o tema do momento e a senhora a ver navios imaginários que cruzam ao longe lá em Torres. Pois bem, então, a última é a seguinte: sabia a senhora que os americanos andam agora comendo ouro? É, sim, senhora, ouro 24 quilates, ainda por cima. Pó de ouro, para ser mais exato. Como assim? Siga lendo.
Pois, em Nova Iorque, um restaurante de uma cadeia tradicional que produz os doces conhecidos como donuts passou a oferecer no cardápio um sabor que vem polvilhado com pó de ouro 24 quilates. A americanada está devorando ouro, madame, conte isso para as suas amigas e veja a senhora a cara de samambaia delas, amanhã, na hora do chá. E sabe quanto custa cada rosquinha? Cem dólares! Que coisa: esvazia o bolso e trucida o estômago. Só que, aí, fui pesquisar, que a senhora sabe que eu pesquiso. E, segundo rezam as lendas em vários sites da internet, papar ouro até que faz bem para a saúde. Diz que rejuvenesce a pele e elimina toxinas do organismo. Diz ainda que mastigar ouro é moda entre os chiques americanos e europeus, especialmente como ingrediente em chocolates finos. Esses ricos, cada uma, não é mesmo, madame?

Só que assim, né, a senhora abra o olho. Não conta essa para o marido. Vai ser o que ele precisa para aparecer em casa, amanhã ou depois, sem a aliança de casamento no dedo e tentar aplicar uma típica desculpa de esposo rico europeu: “não é nada, querida, desencana: senti fome no meio da tarde e fui roendo, roendo...”.
(Crônica  publicada no jornal Pioneiro em 19 de janeiro de 2016) 

Nenhum comentário: