Bom, né, madame, daí é aquela
coisa que a senhora já sabe: você acorda de manhã cedinho, toma seu desjejum
sem esquecer das pílulas e do cereal, dá uma passada de olhos nos jornais do
dia, confere os apontamentos na agenda para lembrar dos compromissos, dá-lhe de
novo aquela espreguiçada para exorcizar a lerdeza e põe-se a navegar, já que
também somos normais, como todo mundo. Navega pra lá, navega pra cá até que
encontra um site interessante onde atracar por alguns minutos o barco conduzido
pelo mouse do notebook. É aí que surgem as coisas, como já podemos prever.
A senhora sabe, né, nosso pacto:
aquilo de estranho e estapafúrdio que eu descubro, logo trato de compartilhar
com a madama, para que depois não venha me acusar de não lhe informar as coisas
e a senhora ficar pagando mico com cara de lontra entre as amigas na hora do
chá, a xícara suspensa na mão a meia viagem entre o pires e os beiços, todas
elas comentando o tema do momento e a senhora a ver navios imaginários que cruzam
ao longe lá em Torres. Pois bem, então, a última é a seguinte: sabia a senhora
que os americanos andam agora comendo ouro? É, sim, senhora, ouro 24 quilates,
ainda por cima. Pó de ouro, para ser mais exato. Como assim? Siga lendo.
Pois, em Nova Iorque, um
restaurante de uma cadeia tradicional que produz os doces conhecidos como
donuts passou a oferecer no cardápio um sabor que vem polvilhado com pó de ouro
24 quilates. A americanada está devorando ouro, madame, conte isso para as suas
amigas e veja a senhora a cara de samambaia delas, amanhã, na hora do chá. E
sabe quanto custa cada rosquinha? Cem dólares! Que coisa: esvazia o bolso e
trucida o estômago. Só que, aí, fui pesquisar, que a senhora sabe que eu
pesquiso. E, segundo rezam as lendas em vários sites da internet, papar ouro
até que faz bem para a saúde. Diz que rejuvenesce a pele e elimina toxinas do
organismo. Diz ainda que mastigar ouro é moda entre os chiques americanos e
europeus, especialmente como ingrediente em chocolates finos. Esses ricos, cada
uma, não é mesmo, madame?
Só que assim, né, a senhora abra
o olho. Não conta essa para o marido. Vai ser o que ele precisa para aparecer
em casa, amanhã ou depois, sem a aliança de casamento no dedo e tentar aplicar
uma típica desculpa de esposo rico europeu: “não é nada, querida, desencana:
senti fome no meio da tarde e fui roendo, roendo...”.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de janeiro de 2016)
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