sábado, 2 de janeiro de 2016

Marcas do que ficou

Sempre gostei de retrospectivas jornalísticas de final de ano sobre os fatos que marcaram os doze meses que se botam a findar em 31 de dezembro. Nos anos 1980, aguardava com expectativa e ansiedade os programas especiais televisivos, tradicionalmente narrados por Cid Moreira, para relembrar os acontecimentos que haviam sacudido o Estado, o país e o mundo. Não havia internet e o gatilho da memória ficava por conta das televisões, dos jornais e das emissoras de rádio.
Mas agora tem internet. Tem internet e tem também a tevê a cabo, com trocentos canais, cada qual com suas retrospectivas específicas: o que marcou na música, o que marcou na moda, o que marcou nos esportes, nisso, naquilo, naqueloutro. Hoje há uma banalização das retrospectivas e confesso que sequer estaciono o olhar nos canais de tevê que se dedicam ao levantamento jornalístico do que rolou durante o ano. Até porque, Cid Moreira está aposentado. Perdeu a graça.
Mas quando a graça se perde, há que se reencontrar a graça onde quer que ela esteja. Fui dar uma vasculhada pela internet e não é que encontrei? Olha só essa: um site se deu ao trabalho de fazer um levantamento elencando as perguntas mais bizarras feitas em entrevistas de emprego ao redor do mundo, no ano de 2015. Questionários aplicados em várias empresas em diversos países foram analisados e as “pérolas”, selecionadas. Entre elas, uma me chamou a atenção: “Qual a sua princesa Disney favorita?”. Bem, o amigo leitor e a atilada leitora poderão contrapor que a pergunta até poderia fazer sentido em se tratando de entrevista de emprego para trabalhar na Disneylândia. Ok. Só que não era. Eu, por exemplo, teria dificuldade em escolher entre Cinderela, a Bela Adormecida e Branca-de-Neve. Não passaria nessa pergunta.

Outra: “Quem venceria uma luta entre o Batman e o Homem-Aranha”? Ora, o Homem-Aranha, lógico! Ele tem teia! Outra (essa aplicada pela Apple): “Qual o seu segredo pessoal”? Ora, essa é fácil. A resposta certa seria: é segredo! A lista é grande e segue nesse nível. Daí para baixo, claro. O que se tira disso? Ora, estimado e prezada: tira-se disso nada ou tudo, dependendo da capacidade de cada um extrair o que reside de sentido nas entrelinhas. De minha parte, preferiria uma retrospectiva jornalística tradicional de final de ano. Vou ligar para o Cid Moreira...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de janeiro de 2016)

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