segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Frango domingueiro

Domingo ensolarado com tempo firme, temperatura agradável, brisa soprando de leve e agenda zerada é daquelas conjugações raras que, quando une todos esses elementos, se transforma em grata surpresa. Por mais que apostemos na capacidade de acerto da previsão meteorológica (nisso, sou um homem de pouca fé), flagramo-nos estupefatos quando, ao saltarmos da cama no amanhecer do domingo, o cenário que se nos apresenta da janela do quarto é esse que descrevi no início desta mal digitada mundana crônica. Quase não acreditamos no que estamos vendo.
Foi assim ontem, domingo, que o dia se apresentou para mim. Estava tudo ali: sol radiante, tempo firme, calor com brisa, agenda vazia, as horas todas disponíveis. Que delícia! Frente à atipicidade (eita!) do acontecido, chega-se quase a ficar paralisado, sem saber exatamente o que fazer. Sim, porque, em domingos chuvosos, emburrados, ventosos e úmidos, com os quais tão bem estamos acostumados aqui na nossa gaúcha Serra, sabemos exatamente como proceder: aparafusamo-nos no sofá da sala, derrubamos o estoque de pipocas de micro-ondas e mandamos ver no Faustão. É fácil, porque não precisamos, nesses casos, exercitar nossa criatividade frente ao ócio.
Porém, quando o domingo se oferece assim, sorridente e convidativo, o que fazer? É preciso pensar rápido, chacoalhar da cama a família, pentear o cabelo das crianças, enfiar o café da manhã goela abaixo de todos, desenterrar os calções de banho, engalanar-se coma camiseta do time do coração e rumar para a praia (se for perto), ou para o clube (se for sócio), ou para o balneário (se houver grana no bolso). Ou, ainda, telefonar para a casa de algum parente que certamente vai fazer churrasco (e que tenha piscina de plástico, ao menos) e se encostar com a família toda (sogros, cunhados e pais são sempre as melhores escolhas nessas horas). Ou botar-se você mesmo a correr de última hora atrás do supermercado aberto que lhe vai fornecer o saco de carvão, o salsichão, a costelinha e a maminha (bem passadinha, para as senhoras) para salvar o domingo (ah, e o par de limões para a caipirinha).

De minha parte, singrei as ruas do bairro atrás do melhor ponto de venda de frango assado, com polenta e maionese. Quanto mais na beira da calçada, melhor. Quanto mais gente na fila, melhor ainda (sinal de qualidade frangal e chance de socializar). Ah, um frango assado num domingo ensolarado de meio-dia! É essa lembrança que abastece meu ânimo de gás para começar a semana. Cada um com suas pequenas alegrias...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de janeiro de 2016)

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