sábado, 30 de janeiro de 2016

Coelhos na cartola

Não gosto de deixar passar em branco a data de 31 de janeiro (este domingo), pois é nela que se comemora o Dia Mundial dos Mágicos. A magia e o ilusionismo são elementos que me fascinam desde a mais tenra infância, quando meu pai fazia um pedaço do polegar de sua mão direita desaparecer diante de meus olhos e depois ressurgir misteriosamente. Como ele fazia aquilo? Lembro da angústia que me invadia quando o naco de seu dedo sumia. Ficava preocupado. Mas a sensação não se estendia por muito tempo e uma imensa felicidade tomava meu espírito quando, por meio de um truque, a normalidade era restabelecida e tudo seguia como dantes nos dedos da mão de meu pai. Havia magia, e ela me capturou para sempre.
Na adolescência, encomendei via reembolso postal um kit de magia pelos Correios, a fim de impressionar a família e amigos com meus truques, pois planejava ser mágico quando crescesse e, então, já estava na hora de ir treinando. Entre a tralheira toda, havia um anel que desferia um choque na mão da pessoa a quem o mágico (eu) cumprimentava, uma cobra de plástico que saltava de dentro de uma garrafa e um dispositivo que, inserido matreiramente dentro de um cigarro, explodia minutos depois de aceso, na boca do fumante (uma tia minha me olha de lado há décadas desde que inventei de testar o truque na carteira de cigarros dela). Tudo politicamente incorreto para os dias de hoje, mas me diverti bastante às custas dos outros, na época.

Depois fui aprendendo que diversão de verdade só é plena e só se justifica quando se dá em conjunto com os outros, e não às custas deles. Mudaram então as mágicas e, daquela época, ainda sei fazer duas ou três, com cartas de baralho em que os curingas são protagonistas e com plaquinhas nas quais um par de coelhinhos aparece e desaparece diante dos olhos e bocas abertas dos presentes. Aprendi também que a data de 31 de janeiro é ligada à magia em homenagem a São João Bosco, padroeiro dos mágicos, nascido em 1815 em Becchi, na Itália, e que morreu em 31 de janeiro de 1888 em Turim. Na juventude, ele dedicou-se ao ilusionismo para sustentar a família antes de entrar para a vida religiosa e, em sua carreira, voltar-se à educação de crianças e jovens. Seu lema era “educar não com pancadas, mas com mansidão e caridade”. A educação é a única magia capaz de tirar da cartola cidadãos íntegros e proativos. É só por meio deles que se dá o passe de mágica que transforma a sociedade para melhor. Abracadabra e façamos mágicas!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de janeiro de 2016)

Nenhum comentário: