sábado, 5 de dezembro de 2015

Saudades de São Nicolau

O dia 6 de dezembro, que cai neste domingo, é data importante para a cristandade dos países orientais, especialmente Rússia, Turquia e vizinhanças. Isso porque é nessa ocasião que se celebra São Nicolau, um santo importantíssimo por aquelas plagas, sendo o padroeiro oficial de países como Rússia, Grécia e Noruega. Já viveu dias de maior apreço nos países cristãos ocidentais da Europa e das Américas, porém, foi desbancado no início do século passado pela popularidade forjada de um ícone nada santo e totalmente mercadológico, conforme veremos daqui a pouco, basta seguir lendo.
Não se sabe exatamente sua data de nascimento, porém, morreu em 6 de dezembro (daí a efeméride) de 350 d.C. em Patara, antiga região grega que hoje pertence à Turquia. Nicolau foi um proeminente bispo da Igreja Católica turca em Mira,  tendo se destacado por sua defesa ferrenha da fé cristã e pela contundência com que defendia suas posições, mesmo entre seus pares. Paralelamente a isso, possuía uma alma caridosa, preocupado com os desvalidos e sem posses e, em especial com as crianças. São Nicolau gostava muito das crianças, de forma santa, pura e genuína. Tanto isso era verdade que ficou conhecido por andar pela região com um enorme saco às costas, distribuindo presentes para as criancinhas na época do Natal e deixando moedas de ouro nas chaminés das casas das famílias mais pobres.
Interessante, não? Isso lembrou alguma coisa ou alguém? Pois é, isso mesmo. É em São Nicolau que nasceu a inspiração para a figura do Papai Noel, a distribuir brinquedos para as crianças e a descer pelas chaminés das casas na noite de Natal. Até o final do século 19, Papai Noel era representado vestido com as roupas de bispo da Igreja Católica, em clara alusão ao santo inspirador de sua figura: São Nicolau. Mas aí entraram em cena os marqueteiros de várias empresas vendedoras de bebidas como água mineral (em 1915) e refrigerante famoso (1931), que utilizaram o visual de Papai Noel criado em 1886 por um cartunista alemão (Thomas Nast), com barba branca, roupa vermelha e cinturão e botas, como garoto-propaganda de seus lançamentos de Natal.

Foi o que bastou para São Nicolau, o verdadeiro detentor do espírito natalino e amigo das crianças e dos desvalidos, ser varrido para o esquecimento no mundo ocidental bebedor de refrigerante e cultuador de personagens marqueteiros criados em pranchetas. Que saudades de São Nicolau...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de dezembro de 2015)

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