sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

RELATIVIZAR A SAMAMBAIA

Às vezes penso que o que precisamos mesmo, que nos faz uma baita falta na vida, é um aparelhinho capaz de dimensionar o verdadeiro tamanho das coisas que acontecem conosco e ao nosso redor. Precisamos de uma espécie de “dimensionômetro”, equipado com uma escala numérica (de 0 a 10) ou de cores (do azul ao vermelho) que possibilite, ao ser acionado, demonstrar a verdadeira gravidade (ou não) da questão que lhe apresentamos e que estamos vivenciando naquele momento específico.
Sim, porque, ao que me parece, muitas vezes não temos o discernimento e a lucidez necessários para colocar as coisas em seus devidos lugares e agir de acordo com a gravidade (ou não) dos fatos. Facilmente caímos na armadilha do superdimensionamento de fatos pequeninhos que, a bem da verdade, sequer permanecerão em nossas memórias alguns anos depois ou, mesmo, semanas adiante. Movidos pela tensão e ansiedade constantes, explodimos de raiva se a sinaleira fecha bem na hora em que iríamos cruzar; achamos o fim do mundo a queda momentânea do sinal da internet; fazemos um banzé porque alguém quebrou a taça de cristal (não fazemos o mesmo banzé quando o quebrador somos nós mesmos, correto?) e, a bem da verdade, qual a relevância desses pequenos contratempos na história de nossas vidas?
A relevância se materializará, sim, logo adiante, caso continuarmos a reagir despropositadamente a cada vez em que formos contrariados e a fatura virá na forma da destruição de nossas próprias saúdes. O fígado, o estômago, o coração e o sono que o digam. É preciso saber relativizar. Não significa adotar a partir de agora o padrão de comportamento de uma samambaia sonolenta frente à vida, porque obviamente haverá momentos em que sua ação rápida e enérgica se fará necessária. Mas, quanto às pequenas coisas do cotidiano e das relações entre as pessoas, é preciso aplicar o “dimensionômetro”. Perdeste a chave do carro? Questione o aparelho e ele lhe demonstrará grau três (na escala de zero a dez) de intensidade de estresse. Afinal, basta chamar um chaveiro e pronto, problema solucionado.

Visitas inesperadas apertam o interfone e estão subindo enquanto você detecta uma geladeira desprovida de mantimentos? Grau dez! Corra ao telefone enquanto o elevador os vai trazendo e chame logo a telepizza. Pronto, tudo solucionado. E vamos evitando morrer de estresse na véspera.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de dezembro de 2015)

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