quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Páginas fechadas

Primeiro, chegou a notícia de que a versão brasileira da revista Playboy, publicada no país há 40 anos pela Editora Abril, seria cancelada após sua última edição no final deste ano. Decorrência da crise no mercado de impressos e também da decisão da matriz norte-americana de banir as fotos de mulheres nuas de suas páginas a partir de agora. Esta semana, porém, a mídia foi inundada com a nova informação de que a revista continuará sendo publicada no Brasil, sim. Apenas vai mudar de editora.
Para mim, o problema da continuação ou não da Playboy no Brasil é indiferente, pois não sou leitor da revista. No entanto, posso imaginar o frisson que esse vai-e-volta relativo à sua continuidade ou não nas bancas e nas casas dos assinantes deve estar causando em seu séquito de leitores. Afinal, o cancelamento de um título de que gostamos de ler e com o qual nos identificamos costuma se revestir de uma aura de perda semelhante a uma espécie de luto. Ao longo dos anos, em minha extensa trajetória de rato-de-banca-de-revistas, amarguei uma coleção de perdas frente ao cancelamento de revistas e gibis de que muito gostava.
Ah, a “Somtrês”, a “Pop” e a “Bizz”, trazendo-me as novidades sobre o universo da música! Ah, a “Mad”, a “Pancada” e “O Planeta Diário”, inundando de humor os meus dias! A revista “Circo”, a “Vertigo”, “A Turma do Pererê” do Ziraldo, o “Fradim” do Henfil, na lista dos bons quadrinhos! A “Ciência Ilustrada”, “Realidade”, “Manchete”, “Fatos & Fotos”, informando e formando. A lista de meus lutos de banca de revista é longa, já estou ficando triste. Paremos por aqui que o leitor, eu sei, está completando-a mentalmente, a seu bel-prazer.

O cancelamento de uma revista se equivale, em termos de sensação de perda, ao fechamento de um restaurante que gostamos de frequentar. Equipara-se, também, à tristeza que nos invade frente à notícia da morte de pessoas famosas que admiramos. Revistas, restaurantes e ídolos são elementos constitutivos de nossas próprias histórias pessoais, símbolos que nos definem e que nos são referenciais. Quando se vão, representam o fechamento de ciclos de nossas próprias existências. Pequenos lutos culturais que fortalecem nossa individualidade. Falando nisso, lembra daquela soparia na Júlio de Castilhos...?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de dezembro de 2015)

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