quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Há 50 anos em lugar-algum

Quando detectei a data, não pude resistir e corri ao aparelho de som (sim, eu ainda uso aparelho de som) para colocar a tocar o CD (sim, eu ainda escuto música via CD) que celebra hoje, 3 de dezembro, suas bodas de ouro (“Ele é um verdadeiro homem de lugar-algum, sentado em sua terra de lugar-algum”). Cinquenta anos, meio século. Não é pouca coisa, em termos de vida humana (na média, mais da metade), mas é relativamente pouco em termos de História da humanidade (“Fazendo todos seus planos nonsense para ninguém”). Mesmo assim, tempo suficiente para consolidar sua importância na transformação cultural do mundo ocidental e comprovar a vitalidade perene daquilo que é feito com talento, gênio e dedicação (“Não possui opiniões próprias, não sabe para onde está indo, não se parece um pouquinho como você e eu?”).
Em 3 de dezembro de 1965, o mundo começava a tomar contato com as 14 faixas do sexto álbum de estúdio dos Beatles, “Rubber Soul” (“Alma de Borracha ”), e a detectar, pela qualidade das músicas, que uma transformação profunda acontecia na banda, com músicas mais elaboradas, novos instrumentos agregados aos arranjos, temáticas mais complexas sendo abordadas. Dali em diante, os Beatles nunca mais seriam os mesmos, já que inovação com genialidade e talento foi sua marca registrada desde o começo até o fim. Na verdade, “Rubber Soul” foi apenas o indicativo do que estava por vir com as revoluções subsequentes de “Revolver” (1966), “Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band” (1967), “White Album” (1968), “Abbey Road” (1969) e “Let it Be” (1970).
Há meio século que nos encantamos e surpreendemos com as histórias de um homem que pertence a lugar algum, não tem opiniões e vive uma vida de nada (“Nowhere Man”); evocamos a nostalgia das pessoas e lugares que marcaram nossa vidas (“In My Life”); lembramos de antigas paixões que se foram como pássaros (“Norwegian Wood”); suspiramos por “Michelle” e confessamos que, se precisássemos de alguém para amar, esse alguém seria você (“If I Needed Someone”), entre outras composições imortais.

Os parabéns não vão só para o álbum que aniversaria, mas sim para todos os que sabem revitalizar suas próprias existências com o passar dos anos, evocando o que a humanidade é capaz de produzir de melhor. Afinal, que triste seria o mundo caso não tivesse havido Beatles, não é mesmo?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de dezembro de 2015)

Nenhum comentário: