terça-feira, 15 de dezembro de 2015

De onde as paletas?

Daqui a uns três meses, celebrarei o primeiro aniversário de uma nova experiência gastronômica que me marcou profundamente, pois é raro você chegar às portas do meio século de existência e ainda ter o privilégio de deparar com algo classificável como novidade. É diferente dos anos iniciais de vida, quando a primeira colherada de feijão amassado lhe invade as bochechas, a primeira chupada em polpa de pêssego lhe faz brilharem os olhos, o chocolate dando as boas-vindas a um mundo que nem sempre lhe será saboroso.
Não, depois de velho, essas sensações vão escasseando. Mas, acontecem, de vez em quando. Claro que seriam mais frequentes caso empreendêssemos visitas assíduas ao Oriente, onde formigas fritas, larvas recheadas e gafanhotos vivos também integram a culinária típica, mas nunca percorri tais extremos (geográficos e alimentares). Estando na Escócia, experimentei um tradicional black puddining; em Londres, banqueteei um típico chá das cinco da tarde; na França, croque monsieur e suco de tomate; no Uruguai, parrilla; em Buenos Aires, desyjuno con media-luna y jugo de pomelo. Sim, tudo típico e delicioso, mas nada proporcionando o encontro com o plenamente inusitado e nunca-antes-visto (no caso, saboreado).
Essa sensação vim a (re)experimentar em março do ano passado, enquanto veraneava em Torres. Foi quando pela primeira vez na vida empunhei um palito de paleta mexicana. Uau! Que sabor! Que delícia aquela casca grossa de gelo aveludado (a de morango, a de morango!) envolvendo o doce recheio cremoso (o de leite condensado, o de leite condensado!)! Esbaldei-me no verão passado com as paletas mexicanas e consolidei em meu íntimo a convicção de em breve, muito em breve, empreender um passeio ao México, o país das paletas. Só que não!

Depois da invasão das paletas mexicanas por todas as esquinas, até aqui em Caxias (o que é uma delícia para um viciado como eu), acabei descobrindo que o picolé não é, nem de longe, uma iguaria típica criada pelos mexicanos. Aliás, eles, lá, sequer sabem do que se trata. Ou seja, a paleta é uma delícia, mas sua mexicanisse não passa de jogada de marketing. É fake. Tudo bem, em nada está abalada minha convicção de visitar o México. E nem de seguir devorando paletas “mexicanas”. Em março celebro um ano desse namoro, de preferência, de novo em Torres, acompanhado por uma Coca-Cola brasileira. Quer dizer...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de dezembro de 2015)

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