terça-feira, 1 de dezembro de 2015

De cofrinho recheado

Aprendi a poupar ainda na infância, devido aos cofrinhos presenteados por meus pais. Primeiro, um porquinho de plástico, que mexia o rabicho e saltava o chapéu toda a vez que recebia uma moedinha. Mais tarde, uma formigona de plástico, símbolo da Fin-Hab, uma caderneta de poupança muito popular na década de 1970. Depois, outro cofrinho em forma de latinha de refrigerante, da Poupança Apesul, adornada com o desenho do gauchinho, seu símbolo.
Deve ter advindo daí meu domesticado e controlado fascínio por moedas, que persiste até hoje. Domesticado e controlado porque jamais me transformei em um numismata, apesar de ter dado início a uma tentativa de coleção de moedas na adolescência, juntamente com a de tampinhas (que vingou), com a de chaveiros (que vingou mais ainda), com a de selos (um desastre) e com a de carrinhos de chumbo Matchbox, precursor dos atuais Hot Wheels. As moedas, eu as guardava nos cofrinhos que, ao serem flagrados lotados, eram imediatamente carneados e seu conteúdo transformado em gibis do Zorro, do Fantasma e do Tarzan ou em livros da coleção do Sítio do Picapau Amarelo. Moeda na minha mão, depois de devidamente poupada, era usada para seu fim primordial: ser trocada por bens.
Outro fator que deve ter ajudado a formatar esse encantamento por moedas veio de Patópolis, cidade-sede da Caixa-Forte do Tio Patinhas, quackmilionário cujo maior prazer era o de mergulhar de calção de banho em sua piscina forrada de moedas. Certa vez adquiri o Manual do Tio Patinhas, que trazia de brinde uma réplica da famosa Moedinha Número 1, aquela que dava sorte ao Tio Patinhas e era responsável por toda a sua fortuna. Azarado que era, não só não fiz fortuna como perdi a própria moedinha, do que me arrependo até hoje. Para compensar, agora, na adultice, em recente visita à histórica cidade inglesa de Bath, que pertenceu aos domínios do Império Romano, adquiri uma réplica de um sestércio romano da época do Imperador Claudius. Quero crer que anda me dando sorte.

Hoje continuo guardando moedinhas. Não as ignoro nem as desprezo, pelo contrário, valorizo-as no que elas proporcionam de melhor. Especialmente aprecio o poder de barganha que elas detêm nas feiras do produtor, ao se transformarem nas frutas, legumes e verduras das minhas refeições. Afinal, hábitos são hábitos. Ah, e parabéns aos numismatas hoje, em seu dia!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de dezembro de 2015)

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