quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

As mil e uma paixões

Pode ser simbólico ou mesmo metafórico que na crônica de ontem o tema abordado tenha sido as nuances que movem a paixão. A paixão e seus mistérios, como a que ocorreu com Jandira e Zé, personagens do filme “Alguém Qualquer” (de Tristan Aronovich, Brasil, 2012), e que serviu de pano de fundo para tratar do texto de ontem, é um tema que se pode considerar à altura de pontuar a milésima crônica de um cronista mundano.
Sim, porque ontem, estimada leitora, prezado leitor, este mundano cronista atingiu a marca das mil crônicas publicadas em sua carreira, tergiversando, vejam só, sobre a paixão, esse inescrutável sentimento que move boa parte das ações humanas. Não poderia mesmo haver tema mais abrangente, vital e humano como a paixão para marcar o milenar aniversário, pois não? Claro que sim, porque são os frutos da paixão que o cronista irá colher para alimentar as linhas dos textos que precisa produzir com a intenção de esquadrinhar as nuances da existência e oferecê-las em forma de banquete escrito ao paladar dos leitores. Pois que é a paixão de um cineasta que produz o filme abordado na crônica; é a paixão do escritor que concebe o livro; é a paixão do líder que transforma a história; é a paixão de um povo que altera o rumo de uma nação; é a paixão de um anônimo que gera a notícia; é a paixão da Natureza que cria a borboleta e assim por diante.
Mil vezes, até ontem, essas grandes e pequenas paixões motivaram este esforçado cronista a compartilhar seus encantamentos com os leitores, nestas e em outras páginas ao longo dos anos. Hoje, compartilha sua milésima primeira, sucumbindo lucidamente à tentação de evocar a carga simbólica do número 1001, que conduz ao conceito de infinito, tal qual expresso no título das “Mil e Uma Noites”, dando a entender que, se mil já retrata o imensurável, acrescente-se a ele ainda um a mais, e sempre mais um, e mais um e...

Mil e uma crônicas não significa obter um passaporte para o infinito. O mundano cronista sabe que tudo na vida é cíclico, passageiro e finito. Mas é justamente na compreensão dessa finitude que reside a força de paixão necessária para darmos sequência a todos os nossos projetos, visando, sim, ao empreendê-los, a infinitude de seu alcance e de suas consequências. Que a vida de cada um possa ser movida por mil paixões e mais uma.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 31 de dezembro de 2015)

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