terça-feira, 3 de novembro de 2015

Quem muito escolhe...

Eu ia começar esta crônica com o já batido jargão “é batata”, mas preferi não fazê-lo para não soar repetitivo (o que seria catastrófico) ou desinspirado (o que seria pior do que catastrófico... hecatômbico!?) frente aos meus fiéis e perseverantes leitores, aos quais sempre procuro causar uma boa impressão, em se tratando de letras primordialmente impressas. Mas mesmo não o fazendo, não tem como camuflar, pois que é batata, isso lá é, sim, fazer o quê? É batata, e ponto!
Sim, madame, já vou explicar, a senhora sabe que eu sempre acabo explicando (mesmo que, nem sempre, convencendo, mas isso faz parte do jogo e é o que, no final das contas, confere a graça para a coisa toda). O que é batata é que sempre, invariavelmente, via de regra e todas as vezes, quem faz a melhor escolha é ela. Como assim, “ela quem”? A senhora sabe: ela! Ela, a minha esposa! Quem mais seria? Sim, ela é quem detém o poder de sair-se melhor quando a questão que se coloca à nossa frente é escolher. E lá vai ela, e cá fico eu, a ver navios e a remoer minha invariável e recorrente incapacidade de escolha. Batata pura!
Basta chegar o cardápio no restaurante, por exemplo, que pimba! Ela escolhe a opção do jantar empratado mais saborosa. Mais saborosa do que a minha escolha, lógico. Fico lá eu, remando com o garfo no meu espaguete à bolonhesa e ela se lambuzando com o risoto ao funghi que espertamente pediu! Eu adoro espaguete à bolonhesa, mas o risoto ao funghi dela me olha com uma cara tão saborosa... E na lancheria! O xis-completo dela obviamente será superior ao meu xis-filé de sempre! Na cafeteria, o capuccino dela, vê-se de longe, é notadamente superior ao meu expresso duplo. No boteco, o suco de frutas vermelhas dela parece mil vezes mais encantador do que o meu de uva branca (ou branco?). A sobremesa que ela escolhe é melhor do que a minha. A entrada, também. E o primeiro prato, e o segundo, e a guarnição.

Como é, madame? A senhora sugere que eu peça sempre o mesmo que ela? Já tentei, amiga, já tentei. Não adianta, acredite, o prato dela sempre vem melhor do que o meu. Se pedimos sopa de capeletti, os capelettis do prato dela estão mais saborosos do que os que nadam no meu. É assim, não tem jeito. A única coisa que me redime e consola é saber que, pelo menos, ela escolheu a mim...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de novembro de 2015)

Nenhum comentário: