terça-feira, 17 de novembro de 2015

O camarão na hora certa

Um dos grandes segredos da vida é saber estar no lugar certo na hora certa. E, em contraposição direta a essa tese, é preciso admitir que um dos grandes transtornos na vida é não saber estar no lugar certo na hora certa. Isso aí, conforme a amiga leitora e o estimado leitor percebem de cara, vai tendendo a se configurar em uma daquelas crônicas tecidas sobre o fio condutor da filosofia de botequim, e talvez seja exatamente isso mesmo. Vamos ver o que acontece a seguir, acompanhemos o desenrolar do raciocínio do mundano cronista.
Saber estar no lugar certo na hora certa é uma tática muito útil, por exemplo, quando se trata de almoçar em um restaurante que serve comida em bufê. Bufê a quilo, bufê livre, tanto faz. A questão é que, se você está com aquele desejo enorme de aproveitar sua estada na Capital para matar a saudade daquele tradicional bufê livre de comida chinesa, e está com tempo para chegar bem cedo ao restaurante, escolher uma mesa e passar a degustar as delícias que o esperam, em especial os camarões fritos, o ideal é saber organizar-se e estar no lugar certo (o dito restaurante) na hora certa (já na abertura dos trabalhos restaurantais). Pensando assim, lá foi o cronista mundano adentrar a porta do estabelecimento gastronômico às onze e meia da manhã, raciocinando em termos serranos e dando com o nariz no bufê ainda servido só pela metade. Mas ao menos, já havia uma bandejinha com os ditos camarões fritos, para servir de tira-gosto.
Escolheu o cronista mundano uma mesa junto à janela, no extremo oposto ao bufê, o restaurante ainda vazio, e pediu um aperitivo, porque hoje a coisa iria ser boa. Não percebeu a chegada de um grupo de quatro pessoas que logo se posicionou em uma mesa bem do ladinho do bufê. Em comum com o cronista mundano, tinham eles a fissura pelos camarões fritos, que passaram a capturar na íntegra assim que vinham da cozinha para a bandejinha no bufê. E quem disse que o cronista conseguiu abocanhar um deles sequer? Sentado longe, não tinha como visualizar a chegada dos petiscos e, mesmo que o fizesse, não teria tempo de sair da mesa e ultrapassar a agilidade dos quatro camaradas, que amealhavam toda a camaronada.

Mesmo estando no lugar certo na hora certa, o cronista escolheu a tática errada. Ao menos, estava lá na hora certa para obter inspiração e salvar a crônica, proporcionando uma reflexão sobre estratégia. Ou sobre a falta dela.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de novembro de 2015)

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