sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Prudência nua

Daí você passeia na internet pelos sites de notícias de empresas jornalísticas nacionais e internacionais ditas “sérias” e vai sendo confrontado por chamadas para a leitura do tipo: “Modelo promete fazer strip caso seu time retorne à Série A”; “Cantora Fulana sensualiza durante evento de moda”; “Sicrana de Tal e banda planejam show pelados”; “Loira misteriosa é flagrada saindo de hotel com Jogador Beltrano”, “Senhorita de Tal aplica não-sei-o-quê nas coxas e será capa de revista masculina”, e assim por diante. Isso apenas em uma rápida rodada com o mouse em punho, e para ficar somente nas chamadas menos cabeludas, porque, sim, madame, há as bem mais cabeludas que isso, asseguro.
E, daí, pergunto: a que serve essa espécie de exposição na mídia? Ora, um dos aspectos da questão é facilmente respondível: serve aos propósitos de conquista da fama a qualquer custo, perseguida com afinco e voracidade por celebridades, subcelebridades e candidatos a subsubcelebridades em todos os quadrantes do planeta, homens e mulheres. Lógico, claro e cristalino. E não questiono aqui os métodos utilizados por cada um em busca de seus objetivos, afinal, cada qual luta com as armas de que dispõe, e não sou juiz para julgar coisa alguma. Afinal, quem garante que, fosse eu popozudo, não estaria também criando factoide e prometendo tirar a roupa no chafariz da Praça Dante (depois de encerrada a Feira do Livro, lógico) caso o Juventude e o Caxias ascendam à Eurocopa em 2098? Tudo é possível...
O que me pergunto é o que explica e justifica a visão dos pauteiros e editores dos sites de empresas jornalísticas mundiais ditas “sérias” ao decidirem dar visibilidade a essas claras e tristes tentativas de geração de factoides em busca da fama por parte das subsubsubcelebridades? A mera conquista de índices de leitura basta para justificar as chamadas para o vazio e o nada? Ameaçar tirar a roupa é notícia? Até que ponto o jornalismo anda se dispondo a ser conivente com a banalização da baixaria? Publica-se porque todos querem ver, isso justifica e basta?

Não, eu não estou defendendo censura. Estou debatendo prudência frente ao sensacionalismo barato e critério jornalístico. Se é que isso também já não foi extinto há muito tempo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de outubro de 2015)

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