sábado, 10 de outubro de 2015

De formiga em formiga

Desde criança, sempre cultivei um fascínio profundo pelos insetos que me rodeavam. Mesmo tendo nascido, crescido e espichado em áreas urbanas, minha infância não se deu somente entre quatro paredes de concreto, as fuças enterradas dentro de livros, como uma análise superficial de minha biografia poderia sugerir. Apesar de gostar de ler desde muito miudinho, também tive lá meus joelhos esfolados por escorregar no cascalho correndo ao ar livre, levei tombos de bicicleta, caí de árvores, fugi de cachorros, pisei em roseta, espinhei dedo, colhi bergamota, levei picada de marimbondo, entre outras aventuras típicas de quem também respira fora de casa e passeia a cabeça ao sol.
Em meio a esses cenários de fundo de quintal, minha atenção sempre foi direcionada à atividade dos insetos, que me encantavam (e ainda encantam) devido às suas formas estranhas, à composição anelada e encaixada de seus corpos, à profusão de asas, antenas e pernas, originando combinações esdrúxulas e surpreendentes, como só mesmo a Natureza seria capaz de conceber. Uns voam, outros, rastejam; uns são simpáticos, outros, dão medo; alguns são belos, outros, horripilantes; uns cantam, outros, gritam, enfim, um universo imenso e indecifrável acolhe o incontável número de seres passíveis de serem agrupados na classificação de insetos, a fazerem companhia aos dias de infância que permanecem vivos na memória de quem a teve (a infância) e de quem ainda a tem (a memória).

Anos atrás comecei a escrever uma crônica para o jornal Pioneiro, na qual elencava alguns desses insetos que, a meu ver, andam meio sumidos do cotidiano urbano nesses dias de hoje, e dos quais eu andava meio saudoso de ver por aí, como a joaninha, o louva-a-deus, o vagalume, a libélula e outros. Mas o texto ficou comprido demais e deixei que adormecesse na gaveta (quer dizer, no HD do computador). Isso até descobrir que o artista plástico Antonio Giacomin compartilhava esse mesmo fascínio e andava desejoso de pintar insetos em suas geniais aquarelas. Foi o que bastou para firmarmos a parceria e lançarmos em conjunto o livro “Insetolândia: Uma Viagem ao Redor do Quintal”, viabilizado pelo Financiarte. Neste sábado, dia 10, Giacomin e eu autografaremos a obra no Leiturário da Feira do Livro de Caxias, a partir das 15h. Quem quiser, é só chegar, afinal, de formiga em formiga, se preenche um formigueiro.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de outubro de 2015)

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