quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Água nas mãos

“Zu bett, Marcos und Daniela”! Apesar da sonoridade pesada alemã, a frase que meu pai usava para ordenar que minha irmã e eu fôssemos dormir, porque já era hora de criança estar na cama, era dita de maneira divertida e branda. Como éramos crianças da década de 1970, obedecíamos sem pestanejar ao que nossos pais (e professores, e avós, e tios e adultos em geral) diziam, e, ao ouvirmos o mantra paterno, dávamos início automática e pavlovianamente ao ritual de preparação para o sono, que se iniciava às nove da noite. É, crianças dos anos 1970 iam para a cama às nove da noite, sim, senhorinhos e senhorinhas leitores (a vida a partir das dez da noite era um mistério total para menores de doze anos de idade).
E o rito consistia em lavar os pés (porque criança daqueles tempos corria de pés descalços na terra e na grama), escovar os dentes, vestir o pijama e lavar as mãos. Lavava-se muito as mãos, desde pequeninos, em Ijuí, naqueles tempos: antes de todas as refeições, depois das refeições, depois de brincar, antes de dormir. Lavava-se as mãos sempre, porque era, e segue sendo, cada vez mais, uma questão de higiene e de cultivo da boa saúde. Tanto é assim que, não sei se o senhor leitor e a senhora leitora sabem, mas, desde 2010, o Brasil adotou o dia 15 de outubro como data destinada à conscientização sobre a importância desse ato tão singelo e crucial de higiene. Hoje é o Dia Mundial de Lavar as Mãos. Já lavou as suas hoje?
Quando fiquei sabendo da existência da data, num primeiro momento, levei um susto, imaginando que se tratava de uma data especial criada para celebrar o ato simbólico de tirar o corpo fora, de repassar o abacaxi adiante, de fugir das responsabilidades, ações popularmente designadas como “lavar as mãos”, lembrando que tudo começou com Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia, que fez assim na tentativa de tirar o corpo fora da decisão de crucificar o nazareno que andava incomodando alguns poderosos naquelas possessões palestinas, dois mil anos atrás. Mas a História mostra que não adiantou nada Pìlatos lavar as mãos, e até hoje ele é responsabilizado por ter feito o que fez, especialmente contra Quem o fez.

Eis que assim aprendemos que “lavar as mãos”, entre aspas, é atitude temerária, covarde e cínica, e faz mal para a saúde da alma. Já lavar as mãos sem aspas é fundamental para a manutenção da saúde de corpo e alma. Opte sempre pela segunda.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de outubro de 2015)

Nenhum comentário: