terça-feira, 15 de setembro de 2015

A maior das angústias

Eureka! Descobri! Demorou, mas finalmente achei! Consegui detectar, entre as infinitas notas da orquestra da vida (ai, que metáfora bonitinha me surgiu agora entre dedos teclantes, vocês notaram ali?), a existência de um sentimento de angústia que consegue superar a já famosa “angústia do goleiro na hora do pênalti”. Não sei se você é ou já foi goleiro alguma vez, mas, independentemente disso, todo o brasileiro é um jogador de futebol em potencial nato, e, pelo menos nesse momento, assistindo a uma partida, somos, todos nós, capazes de deixar aflorar a empatia e sentimos na alma a mesma angústia do goleiro ante a cobrança do pênalti, especialmente se o goleiro for o que defende a camiseta de nosso time, porque, do contrário, queremos mais é que a bola cruze por entre suas pernas e sacuda as redes e deu pra bola, segue o jogo.
Mas há, sim, caro leitor e estimadérrima leitora, uma angústia superior em intensidade e em capacidade de mortificar a alma muito superior a essa que goleiros sofrem e que torcedores sofrem junto, na boca do gol, à iminência da cobrança do pênalti. Trata-se da angústia da escolha da ordem das mesas para se servir no bufê na hora da festa. É horrível. Essa sensação torturante assoma a todos os seres humanos sempre que se veem na condição de convidados a algum evento festivo no qual a hora da boia está previamente organizada, devendo obedecer a algum critério (sempre indecifrável aos famintos convidados) de ordem para que a horda (“ordem” e “horda”, notaram o trocadilho, hein, eita esse cronista mundano, hein, cada vez mais espertinho) não avance descontroladamente até a mesa das panelas, atropelando cerimonialistas, derrubando pratos e tirando o foco que deveria estar centrado nos noivos, ou no formando, ou na debutante, ou no condecorado, enfim, no dono da dita festa, que nos convidou e que gentilmente trata de alimentar a nós, que aqui estamos a prestigiá-lo, claro, porém, esverdeados de fome e só pensamos se ainda conseguiremos cravar o garfo em algum filé ao molho madeira e arrebanhar um punhado significativo de batatas salteadas para dentro de nosso prato, mas vejam, aquela senhora ali está voltando para sua mesa portando uma escandalosa pilha de seis bifes, provavelmente entre eles o meu, o de minha esposa e os outros dois que seriam os da repetição!

 É muita angústia!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de setembro de 2015)

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