terça-feira, 1 de setembro de 2015

A hora do polichinelo


Eu não gostava dos professores de educação física, no colégio. A sentença encerra uma contradição em si, porque, na verdade, o que eu não gostava mesmo era das aulas de educação física, e acabava projetando nos professores toda a intensidade de minha não-gostança daquelas horas que, para mim, eram quase tortura. Os professores, em si, não tinham nada a ver com esses meus gostares e desgostares, que não servem de escala para medir a personalidade de ninguém.
Na verdade, hoje, olhando em retrospecto, percebo que os professores de educação física que tive ao longo de minha vida de estudos (primeiro e segundo graus e universidade) eram boas pessoas, educadores esforçados, profissionais, figuras bacanas, camaradas, coisa e tal. Problema mesmo era eu, que, resignado, enfiava o calçãozinho em casa e os kichutes a partir de um ritual mecanizado conduzido pela imperiosa necessidade de obter a frequência necessária para não acabar amargando no final do ano a vergonha de ficar de recuperação em... educação física! E ia-me eu lá, para as aulas de educação física, duas vezes por semana, correr em volta do campo ou da quadra, fazer dez apoios, dez polichinelos (eu odiava polichinelos devido à exposição pública sistemática de minha falta de coordenação motora), meu fôlego se esvaindo, o coração querendo sair pela boca e a alma rezando para voltar correndo para casa desenhar histórias em quadrinhos e continuar lendo as aventuras de Pedrinho nas imensidões do Sítio do Picapau Amarelo.
Sem falar que tinha a questão dos óculos, essa parte integrante de meu corpo que nasceu comigo e que era a mais prejudicada nesses momentos. O suor jorrava sobre as lentes e as embaçava enquanto eu corria. A armação era alvo preferencial das bolas de futebol, de tênis, de vôlei e de basquete nas quadras, onde não podia tirá-la sob pena de sair sempre correndo rumo às paredes dos ginásios; e eram indispensáveis nas aulas de natação para que eu pudesse diferenciar a superfície do fundo das piscinas. É, também tinha isso.

Mas sobrevivi, cá estou, saudável e faceiro, a ponto de poder redimir minha lembrança daqueles ótimos professores de educação física e de poder estender meus parabéns a todos os profissionais dessa área, cujo dia se comemora hoje.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de setembro de 2015)

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