terça-feira, 11 de agosto de 2015

Um romano em Roma

Um amigo meu que gosta de viajar elaborou uma “Teoria Geral do Viajante”, a partir da qual procura enquadrar dois tipos básicos e antagônicos de perfis de pessoas que se botam a flanar pelo mundo. Como ele mesmo se antecipa em explicitar em longa carta/e-mail que me enviou recentemente, após uma viagem feita a Minas Gerais, a teoria ainda está em construção e sujeita a reavaliações, porém, já tem os fundamentos de sua essência lançados, e os compartilho com o amigo leitor e com a estimada leitora, esses meus fieis parceiros das viagens mentais que empreendemos aqui por essas linhas, dia sim e dia também.
O primeiro tipo de viajante seria aquele (no qual meu amigo se diz enquadrar) que “viaja para abdicar de si, do que é, que quer experimentar, que quer deixar para trás um pouco (ou muito) de si, para encontrar o outro mundo, o diferente”. A segunda espécie de viajante é composta por aquelas pessoas que, ao contrário, “reafirmam sua condição, como a reiterar suas identidades perante o diferente na procura do que conhecem e que os circunda em sua terra de origem”. Esse segundo grupo de viajantes pode ser exemplificado pelas atitudes de uma pessoa que viajou com meu amigo e que se lamentava por não ter levado junto sua cuia de chimarrão, e por não encontrar restaurantes de comida a quilo para almoçar ao meio-dia, horário em que, aliás, precisava imperiosamente seguir almoçando, mesmo em viagem e passeando. Não podia, portanto, abdicar de seus hábitos caseiros, mesmo que tivesse diante de si todo um mundo novo a ser explorado, vivenciado, sentido, desbravado.
Assim como meu amigo, eu integro o primeiro grupo de viajantes, daqueles que, em estando em Roma, faz como os romanos, abdicando, nesse caso específico, somente de participar de orgias de arromba e de apontar o polegar para baixo no Coliseu, aprovando o sacrifício do gladiador derrotado. Mas, em estando na Inglaterra, eu experimento o típico chá inglês; na Escócia, testo o “black pudding” no desjejum escocês às onze e meia da manhã; em Paris, desfruto um “croque monsieur” à beira do Sena; em Cartagena de Índias, na Colômbia, arrisco destemidamente o degustar de nachos típicos vendidos em plena Calle de la Amargura.

A vida em si é uma viagem diária em torno de nós mesmos e do mundo que nos cerca. Cabe a nós fazermos dela uma experiência diariamente transformadora, mesmo que seja sem sairmos de nossas casas.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de agosto de 2015)

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